Se o Instituto Inhotim não sofreu diretamente em seu território as consequências do rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, ocorrida em janeiro deste ano, o grandioso museu ao ar livre – com 140 hectares entre jardins e pavilhões dedicados à arte contemporânea – não deixou de ter suas atividades afetadas pela tragédia na cidade mineira.
O instituto, que alcançou em 2018 um total de 3 milhões de visitas (em 13 anos de atividade), teve uma grande queda no número de visitantes nos primeiros meses deste ano, resultado da destruição de áreas da cidade e da diminuição do turismo. Além disso, 80% dos 600 funcionários do Inhotim são moradores da região e, de diferentes modos, sofreram com as consequências do rompimento.
Incentivar a retomada na visitação ao instituto e fortalecer os vínculos com a comunidade local são alguns dos principais focos da nova diretora executiva de Inhotim, Renata Bittencourt, que assumiu o cargo no último mês de abril. A mudança na diretoria – que acontece mais de um ano após a renúncia de Bernardo Paz da presidência, consequência de seus problemas com a Justiça – também incluiu a transferência de Antonio Grassi para o cargo de diretor-presidente.
Bittencourt, que teve passagens pelo Instituto Brasilerios de Museus (Ibram) e pela secretária da Cidadania e da Diversidade Cultural do MinC, é autora de pesquisas sobre a representação dos negros na história da arte. Ela conversou por e-mail com a ARTE!Brasileiros sobre os desafios de sua gestão, os esforços do instituto na recuperação da região e o panorama político brasileiro. Leia abaixo.
ARTE!Brasileiros – Você assume a diretoria de Inhotim em um momento muito difícil para a cidade de Brumadinho e para a região, após o rompimento da barragem que resultou em um grande número de mortes e em uma grande tragédia ambiental. Quais são os planos iniciais para a sua gestão e de que modo se relacionam com este contexto?
Renata Bittencourt – Temos dois desafios centrais hoje. Um deles é fortalecer os vínculos com a comunidade local. Já exercemos diversas ações e projetos com moradores de Brumadinho e região, como o Nosso Inhotim, que garante gratuidade na entrada do Instituto e meia entrada em eventos; a Escola de Música, que proporciona musicalização a crianças, jovens e adultos da comunidade; o Inhotim para Todxs, para acessibilidade de grupos participantes de movimentos sociais; e muitos outros. Mas estamos empenhados em intensificar e propor novas atividades, de forma a ampliar nao só o acesso, mas também uma participação mais efetiva da comunidade no Inhotim.
Outra frente de trabalho é seguir convidando os públicos provenientes de diferentes partes do Brasil e do mundo para que visitem o Inhotim e Brumadinho, com todas as belezas e riquesas culturais que a região oferece.
Qual o potencial de Inhotim para ajudar na “reconstrução” da cidade e na normalização da vida de seus habitantes?
Inhotim tem uma história de muitos anos de relacionamento e construção com este território. As pessoas de Brumadinho são as responsáveis, em grande medida, pela beleza construída em Inhotim desde que Bernardo Paz iniciou o projeto, e hoje 80% dos colaboradores da instituição são da cidade e da região. Ao mesmo tempo, Inhotim possibilitou o surgimento de uma cadeia turística que beneficia muitas pessoas e que deve seguir sendo vitalizada, hoje mais do que nunca. O povo de Brumadinho demonstra a cada dia sua força e nos cabe admirar essa comunidade e fortalecer Inhotim como presença construtiva.
Como você disse, o programa Nosso Inhotim faz parte desta aproximação com a cidade. Como ele funciona?
Inhotim pertence a Brumadinho, por isso nada mais justo que a instituição deixar claro que as portas estão abertas a todos dessa comunidade. Queremos que a instituição seja um espaço de convivência regenerador, para todos que queiram desfrutar de seu Jardim Botânico e de suas galerias de arte. Com o programa Nosso Inhotim, moradores de Brumadinho cadastrados têm acesso gratuito ao Inhotim e 50% de desconto nos eventos realizados pelo Instituto. Uma vez por mês, equipes do Inhotim irão promover o registro presencial dos moradores, o que também pode ser feito por e-mail. Nos últimos dois meses, já cadastramos mais de 3 mil pessoas.
Quanto ao conteúdo artístico exposto, há planos para novos pavilhões ou novas exposições em um futuro próximo?
Temos novos projetos bastante empolgantes relacionados a nomes como Yayoi Kusama e Robert Irwin, e teremos notícias em breve.
Neste momento, como se dá a captação de recursos para o Instituto?
O Instituto Inhotim é uma instituição sem fins lucrativos, reconhecida pelo governo estadual como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) desde 2008. O título facilita parcerias entre o Instituto e os governos municipal, estadual e federal, e permite que empresas possam fazer doações para o Inhotim de maneira que esses valores sejam descontados do imposto que devem ao governo. Todos os recursos arrecadados na bilheteria e com venda de serviços são destinados à manutenção das atividades do Inhotim. Para a sustentabilidade e manutenção dos nossos serviços, contamos com patrocinadores, parceiros e apoiadores que acreditam no nosso trabalho e viabilizam a criação e desenvolvimento de muitos projetos.
As novas regras na Lei Rouanet, já utilizada muitas vezes pelo Inhotim, podem afetar o instituto?
Museus não foram afetados pelas mudanças mais recentes, por trabalharem com planos anuais de atividades. Mas é claro que a Lei Rouanet é um instrumento de fomento à cultura importante para produções artísticas e instituições culturais de diferentes perfis.
O momento atual do país e as políticas do novo governo têm gerado grande apreensão para quem trabalha com cultura, de um modo geral. Como você enxerga esse momento e essas novas políticas?
Acredito que o problema é mais amplo. Precisamos refletir sobre a importância que atribuímos, como sociedade, à diversidade como valor, às manifestações culturais como patrimônio e ao papel social das instituições culturais. O fortalecimento do setor depende desta ampla conscientização, e da atuação complementar de diferentes esferas, conectadas com os campos da criação, da mediação e da gestão.
Falando mais especificamente sobre sua produção acadêmica, uma de suas linhas de pesquisa tem a ver com a representação do negro na História da Arte, especialmente nos séculos 19 e 20. Pensando no Brasil atual, como você enxerga o quadro? Há ainda uma subrepresentação de artistas, pesquisadores e profissionais negros no meio das artes visuais?
A cultura é campo da convivência das diferentes visões e imaginações de mundo e da pluralidade de expressões. Acredito que o sistema das artes tem sido chamado para observar a necessidade de valorização da diversidade no contexto dos corpos técnicos das instituições. Há um número expressivo e crescente de profissionais e pesquisadores prontos a contribuir com a diversificação de vozes e perspectivas.
Gostaria de inscrever as pessoas do Condomínio Quintas Das Águas Claras no programa Nosso Inhotim seria possível fazer as inscrições em nossa sede?
Meu nome é Allan de Kard, sou artista plástico, e estou construindo um Museu de arte Contemporânea em Vitória de Conquista Ba num área de 500 mil metros quadrados, inspirado no Inhotim, gostaria de estreitar as relações com este renomado Museu , afim de estabelecer uma relação de Cooperação Mútua, se houver interesse no proposto meu contacto é: 77988020428
Tive a hora e o prazer de conhecer Renata Bittencourt, e já em nosso primeiro contato ficou claro que ela veio pra fortalecer esse vínculo Brumadinho/Inhotim, extremamente gentil e direta, sem promessas, tem o dom de escutar a comunidade, analisar com muita rapidez e decidir ações mais rapidamente ainda, que corroboram com suas palavras, a frase que permeou a pós-reuniao entre e artistas da comunidade foi, “…ela veio pra mudar, é realmente diferente..” agradecemos a Deus a sua vinda para Brumadinho e que o Universo conspire para que vc, Renata Bittencourt fique conosco por vários anos.