ARTE!* – Quando surgiu a ideia de desenvolver esse projeto?
Ximena Garrido-Leca – No ano de 2010 visitei a ruína de Pachacamc[1], perto de Lima. Conversando com o arqueólogo soube que durante as escavações tinham encontrado sementes da espécie Phaseolus Lunatus brancas e pretas, que não eram nada comuns e que tinham se perdido. Estavam pensando em reinseri-las na cultura. Nesse momento ele me deu várias sementes de presente.
A partir dai fiquei muito curiosa sobre a história, e comecei a pesquisar. De fato, essas sementes, espécie de feijões, tinham sido representadas em várias culturas peruanas, pré-hispânicas em cerâmicas e peças têxtis, especialmente na cultura Moche, a cultura Mochica. Outro arqueólogo, Rafael Arcofuego, a princípios do século XX desenvolveu uma teoria onde estas representações seriam um sistema de escritura. Existem outras teorias refutando esta ideia, dizendo que não, que seriam jogos ou parte de um ritual agrário, mas eu decidi me focar na sua teoria. Ele sustenta que cada paillard de sementes representa uma ideia, não seriam ideogramas e sim um sistema de comunicação simbólico.
Teria existido 100 a 850 a.C., e isso confirmaria a ideia de ter existido sim, uma outra escritura peruana, antiga, pré-incaica. Assim, decidi pesquisar mais e montar um projeto baseado em traduzir um texto colonial, La extirpación de la ideolatria en el Peru, escrito por Pablo José de Arriaga em 1621, uma espécie de manual da colônia de como erradicar os costumes indígenas.
Tomei um capítulo, o Edicto contra la ideolatria, que narra os costumes, os rituais e como aplicar os castigos. A partir daí, fui montando grupos gráficos com as sementes reproduzidas em cerâmica. Construindo um novo texto gráfico, a partir de conjuntos de morfologia e de cor.