Al aire, libre (ao ar, livre) foi uma exposição efêmera, realizada entre os dias 16 e 17 de maio, ao longo do território chileno, desde a região de Copiapó, no deserto do Atacama, ao Norte, até Coyhaique, na Patagônia.
A maioria das obras foi produzida pelos artistas em seus diferentes locais de confinamento, após serem convocados pelo curador brasileiro Tiago de Abreu Pinto.
Nascido em Salvador, Bahia, Tiago passou dez anos da sua vida profissional na Espanha, onde realizou também sua tese de doutorado apresentada em 2017, sobre Philippe Thomas, Readymades belong to everyone. O artista francês tem uma conversa com a historia da arte e a literatura onde explorou textos de Fernando Pessoa e Blanchot.
Seguindo a sua pesquisa, Tiago desenvolveu projetos nessa linha em vários países, onde reúne relatos de artistas e os transforma em relatos ficcionais. Essa ideia foi desenvolvida numa exposição com Ivan Grilo, na Casa Triângulo, em São Paulo.
“De férias em Santiago do Chile fui pego pelo fechamento de fronteiras e voos. Assim, decidi fazer a minha quarentena no país”, conta o curador. “Pelo sentimento de desconexão com a comunidade – estávamos todos ilhados, isolados um do outro – entrei em contato com a artista chilena Voluspa Jarpa para escutar sobre seu trabalho. Propus a ela fazer um projeto inspirado no trabalho de uma curadora de Berlin, Ovul O Dormusuglu”, segue ele. “Voluspa, nesse momento e durante todo o projeto, foi quem mais me animou, e se transformou em uma guia durante todo o processo.”
Tiago convocou mais de 70 artistas visuais para realizar uma experiência de colaboração, relacionamento e fala, num momento em que manifestar-se sobre a pandemia foi e será uma necessidade fundamental. Cada um desde seu lugar de residência.
Algumas perguntas sobre a percepção deste período estavam presentes na convocatória. “Somos seres anônimos aos nossos vizinhos? Se ninguém está perto para nos escutar, emitimos algum som?” Redes que reforçaram o espírito de solidariedade apareceram no trabalho.
Entre os artistas convocados estão Paz Errázuriz, Prêmio Nacional de Artes Plásticas 2017. A fotógrafa chilena iniciou sua carreira durante a ditadura chilena de Pinochet. Seu trabalho se concentra em retratar pessoas e espaços que por diversos motivos foram deslocados para as margens da sociedade – uma importante mostra da sua obra estava prevista para abrir no dia 17 de março, no IMS em São Paulo.
Outros participantes de Al aire, libre foram Raúl Zurita, Prêmio Nacional de Literatura 2000; coletivos nacionais como Mil M2, que convidou um grupo de moradores de Torres de Tajamar para fazer perguntas de suas janelas; as artistas Ángela Cura, Felipe Santander e Milena Moena, que projetaram para seus vizinhos um filme que contava a história dessa mesma comunidade de vizinhos, tornando-os participantes do projeto.
“A arte não vai encontrar cura para a Covid-19, mas existe uma necessidade latente de realizar esse projeto, pois, como Voluspa me contou, ‘as obras compartilham emoções coletivas com o momento presente’”, enfatiza Abreu Pinto.
“A resposta do grande número de participantes foi exemplar como exercício para criar estratégias em tempos de crise e quarentena”
“A resposta do grande número de participantes foi exemplar como exercício para criar estratégias em tempos de crise e quarentena. Mas, vai além de uma exposição. Foi um processo social e comunal de solidariedade”, diz Tiago de Abreu. E, conclui: “É muito importante ressaltar que essa foi uma exposição física, antes de mais nada. O projeto online é a concentração dos registros feitos por cada um dos artistas que reverberavam fisicamente em um espaço e durante um certo período de tempo.” ✱