A escultura de resina preta de Jen Reid foi erguida na quarta-feira, 15 de julho, mas removida pela prefeitura da cidade de Bristol, no sudoeste da Inglaterra, ainda na madrugada desta quinta-feira, 16. O prefeito Marvin Rees disse que cabe ao povo de Bristol decidir o que substituirá a estátua de Colston.
Chamada A Surge of Power, a obra foi criada pelo artista Marc Quinn e projetada para ser uma instalação temporária para continuar o debate sobre racismo reacendido pelo assassinato de George Floyd nos Estados Unidos. O artista disse que ficou inspirado a criá-la depois de ver uma imagem de Jen Reid em pé no pedestal vazio onde se encontrava a estátua de Edward Colston. A estátua de Colston foi derrubada e jogada em um rio no início de junho durante uma manifestação antirracista, ato em que Reid estava presente. Colston foi um traficante de escravos e membro do Parlamento britânico que viveu no século XVII. Estima-se que ele esteve envolvido nas mortes de cerca de 19 mil negros escravizados nas Américas e no Caribe naquele mesmo século. Em Bristol, uma rua e vários edifícios recebem o nome dele.
Uma declaração liberada pelo artista explica que a nova estátua não foi planejada como uma solução permanente, e sim como uma forma de atrair atenção contínua ao movimento antirracista. Em seu texto, Quinn também afirma que a escultura não tem fins lucrativos e, se for vendida, o lucro será doado para duas instituições escolhidas por Jen Reid: a Cargo Classroom, programa de história negra criado para adolescentes de Bristol, e a The Black Curriculum, empresa social fundada em 2019 por jovens para preencher a lacuna de história britânica negra no Reino Unido. Também há a possibilidade da obra ser doada à coleção municipal de arte de Bristol.
“Queremos continuar destacando o problema inaceitável do racismo institucionalizado e sistêmico que todos têm o dever de enfrentar”, disse o artista no comunicado. “Essa escultura tinha que ser colocada em domínio público agora: essa não é uma questão nova, mas parece que houve um ponto de inflexão global. É hora de ação direta agora”, ele complementa.
Sobre a retirada, a prefeitura de Bristol explicou que a escultura foi instalada como decisão do artista, sem solicitação ou permissão para tal. No momento, a cidade está montando um processo para determinar o que será feito com o pedestal que suportava a estátua de Colston. “O povo decidirá seu futuro”, afirmou o prefeito Marvin Rees, no Twitter.
Leia também: na edição virtual #51 de arte!brasileiros, a advogada e ativista indígena Naiara Tukano escreve sobre os monumentos e sua relação com os povos indígenas. “Toda essa loucura que vemos dia e noite em nosso país, está refletindo a grande fake news que os livros de história, monumentos, nomes de ruas contam, silenciando as tragédias que cometeram para perpetuarem no poder”, ela coloca. O crítico Fabio Cypriano também aborda a questão e propõe a reflexão: “O que fazer com os monumentos de exaltação aos bandeirantes?”. Já o colunista da arte!brasileiros Tadeu Chiraelli elaborou uma série de pensatas cercando o assunto, elas podem ser acessadas aqui.