Com título inspirado em canção de Chico Buarque contra a ditadura, a exposição manifesto Apesar de você, amanhã há de ser outro dia reúne cerca de vinte artistas mobilizados para se levantar contra a política ultraconservadora do presidente Jair Bolsonaro, que coloca em risco a cultura, os direitos humanos e a proteção do meio ambiente. A coletiva será apresentada até o dia 30 de setembro no ateliê do artista colombiano Iván Argote, nas Grandes Serres, em Pantin, Paris.
Os participantes são artistas brasileiros radicados na França cuja obra se mobiliza contra a situação preocupante do país. Sua seleção foi realizada pela curadora argentina Sofía Lanusse, partindo de uma iniciativa de Sandra Hegedüs, colecionadora e mecenas brasileira, também fundadora da SAM Art Projects. Apesar de você traz obras em plataformas diversas que abrangem pintura, escultura, desenho, música e performance. A mostra expõe trabalhos dos seguintes artistas: Anna Torres, Bianca Dacosta, Elian Almeida, Juliano Caldeira, Lyz Parayzo, Lucas Kröeff, Isadora Soares Belletti, Gabriel Moraes Aquino, Wagner Schwartz, Romain Vicari, Rodrigo Braga, Randolpho Lamonier, Liliane Mutti, Julio Villani, Daniel Nicolaevsky Maria, Daniel Zarvos, Joanna Zimmermann e Iván Argote.
Embora a canção de Chico tenha ecoado pelas ruas do Brasil nos anos 1970, alguns aspectos se mostram atuais. Hegedüs observa: “Estamos enfrentando sérios problemas de censura e uma lista de tensões que seria muito longa para enumerar. Recorri a Iván Argote, que é sul-americano e tem plena compreensão de todas essas questões que existem não só no Brasil. Ele já tinha começado a organizar exposições aqui e imediatamente acolheu este projeto. Com Sofia como curadora queríamos dar a eles esse espaço para que se expressassem sem risco de censura e violência, seguindo o comando artístico dirigido por Julio Villani nos portões da Embaixada do Brasil em Paris, no dia 21 de maio de 2020, cujos cartazes estão distribuídos ao longo da exposição”.
Na apresentação da mostra, Lanusse aponta que essa é uma “oportunidade de sublinhar a importância da criação de espaços coletivos para discutir questões que nos separam, de forma a driblar as táticas do ‘dividir para conquistar'”. Ela complementa: “A forma como nos reunimos é definida pela forma como percebemos e implementamos nossos relacionamentos e responsabilidades, uns para com os outros”. A curadora relata, por fim, que quando políticas lesivas “assediam” nossa sociedade, o diálogo se torna “uma ferramenta fundamental para restaurar a confiança e nos permitir compartilhar nossas opiniões. Cinquenta anos depois, a nostálgica melodia ‘Apesar de você’ nos lembra um passado que se faz mais uma vez presente – e ao qual devemos resistir”.
Acompanhando a exposição, neste final de semana (26 e 27 de setembro) ocorrem três mesas redondas, que poderão ser assistidas virtualmente na página do Facebook da SAM Art Projects, confira:
Sábado (26 de setembro), às 17h
Corpos políticos e afetividade
Conversa (em inglês) entre a curadora da exposição, Sofia Lanusse, e as artistas Lyz Parayzo e Isadora Belletti.
Domingo (27 de setembro), às 16h
Literatura da resistência
Com: Adriana Brandão, jornalista nascida no Brasil, integrante do corpo editorial do serviço brasileiro da RFI e autora do livro Os brasileiros em Paris, ao longo dos séculos e dos bairros; Julio Bernardo Ludemir, nascido no Brasil, autor, um dos criadores do FLUP (Festival Literário Internacional que ocorre, desde 2012, nas favelas do Rio) e da Batalha do Passinho, duelos musicais ao ritmo do funk, que acompanhou em Londres e Nova York; Leonardo Tonus, especialista em literatura brasileira contemporânea; Wagner Schwartz, artista plástico nascido no Rio de Janeiro, que vive e trabalha entre São Paulo e Paris, está envolvido em diversos grupos de pesquisa e experimentação coreográfica na América do Sul e na Europa.
Domingo (27 de setembro), às 18h
O que os artistas podem fazer?
Com: Sandra Hegedüs, mecenas e colecionadora paulista, fundadora da SAM Art Projects e iniciadora da exposição Amanhã há de ser outro dia; Iván Argote, artista plástico nascido em Bogotá, vive e trabalha em Paris, expõe seus filmes e instalações em importantes bienais, museus e galerias de todo o mundo; Liliane Mutti, diretora e roteirista baiana, mora na França e atua nas áreas de videoarte, videoperformance e ficção, tratando de temas entre o exílio e o olhar feminino; Daniel Nicolaevsky Maria, dançarino e artista visual, natural do Rio de Janeiro, que vive e trabalha entre Paris e Rio de Janeiro, expõe e se apresenta em diversos centros de arte, incluindo o Centre Pompidou e o Palais de Tokyo em Paris ou o Sogetsu Art Center em Tóquio.
Para seguir as regras sanitárias, exigidas por causa da pandemia de Covid-19, as pessoas terão que reservar seus ingressos com antecedência e agendar suas visitas no site do evento (weezevent.com). O uso de mascara é obrigatório, bem como o respeito do distanciamento social.