O artista francês Jérémy Chabaud é um dos dois laureados deste ano do Prêmio Arthur Luiz Piza, iniciativa cuja proposta é manter viva a relação dos artistas jovens franceses com o Brasil e dos jovens artistas brasileiros com a França.
Jérémy, que já expôs na França e nos EUA, é o atual diretor da Association Jeune Création, entidade de artistas criada em 1949. A Association, que ele preside, acabou de ganhar um espaço na Fondation Fiminco, em Romainville, na região noroeste de Paris, e possui também um local para residência de artistas em Marselha, no sul da França. É considerada uma iniciativa fundamental para artistas que não estão inseridos no mercado. “Por 70 anos a Jeune Création está em movimento, se reinventando e sempre deixando-se envolver pelas gerações que o atravessam. Ela procura ser o reflexo cru e sólido do mundo e da sua época”, comenta Jérémy.
Anualmente é realizada uma importante exposição, agora em sua 71ª edição em 2020/21, que exibe as obras de 46 artistas escolhidos por um júri formado por jovens artistas e uma convidada, neste caso a crítica de arte e curadora Nathalie Desmet. A metodologia de trabalho, comenta Jérémy, é extremamente horizontal, já que a direção e os trabalhos são escolhidos pelo próprio grupo, que é composto em sua maior parte por artistas no começo de suas carreiras. “O reconhecimento mútuo é, portanto, muito importante. Grande parte da discussão é também baseada em assuntos éticos: visibilidade, paridade, representatividade, inclusão. O festival anual do Jeune Création não é, portanto, apenas uma exposição, mas uma espécie de convenção de múltiplas vozes; o reflexo de uma experiência que é tão humana quanto é artística, onde as escolhas coletivas acabam se tornando a seleção: um extrato do que nos seduz, o que nos marca, o que a nós nos parece promissor ou necessário trazer à luz”, diz Nathalie Desmet.
Deste lado do Atlântico, o gravurista Santídio Pereira é o escolhido pelo Prêmio Arthur Luiz Piza para viajar para França em 2022 e realizar sua pesquisa e residência. Ele nasceu em 1996, em Curral Comprido, um pequeno povoado localizado na cidade de Isaías Coelho, no interior do Piauí. Foi um dos jovens favorecidos pelo Instituto Acaia, uma ONG que atende crianças e adolescentes residentes próximas ao Ceagesp, local onde Santídio também trabalhou.
“A xilogravura atendeu aos primeiros interesses do artista, que desenvolveu procedimentos próprios de trabalho, como o que ele denomina ‘incisão, recorte e encaixe’, ou seja, a composição por meio da combinação de várias matrizes recortadas, como peças de um quebra-cabeça. Além de proporcionar um jogo de cores através do acúmulo e justaposição de tinta, essa técnica permite subverter a função de multiplicidade, tão característica da gravura. São duas as séries de xilogravuras mais representativas de Santídio: Pássaros (2018) e Bromélias (2019). A memória afetiva levou o artista a investir numa pesquisa iconográfica sobre os pássaros da caatinga do Piauí. Mais tarde, a partir da residência artística Kaaysá, realizada em Boiçucanga, surgiu a série de Bromélias. Já Morros (2021) surgiu com o sentimento de liberdade ao se deparar com a paisagem natural de Santo Antônio do Pinhal, Serra da Bocaina e da Cantareira, todas em São Paulo”, informa a biografia do autor no site da Galeria Estação – que o representa desde o começo de sua carreira. Santídio acaba de participar de importante exposição em Shangai. Ele resgata reminiscências de cores, imagens e sensações e sua obra é ao mesmo tempo quase minimalista, de alto teor sensível.