Foi impossível passar pelo estande da inovadora Tropix na SP-Arte e não parar por um momento para se inteirar da novidade ou simplesmente exclamar consigo mesmo “ah, então isso é o tal da NFT!”. Quem visitou a feira de 6 a 10 de abril viu o estande da plataforma cheio o tempo todo, com várias pessoas curiosas, seja pelo básico de como funciona o NFT ou pelos lançamentos de obras que foram trazidos. Outros espaços, como o da Galeria Kogan Amaro e o da Blombô+Aura, também tiveram os olhares voltados de maneira especial para a tecnologia.
A Tropix é destaque neste “novo mercado”, já que surgiu há menos de um ano essencialmente como um marketplace de arte digital com certificação em NFT, mas acabou se tornando uma plataforma além disso. Ela tem sido porta-voz da nova tecnologia no Brasil e conectado os players do mundo da arte entre si: o artista, o galerista, o colecionador, a feira e até mesmo as instituições. Afinal, a plataforma foi a responsável pela doação da obra Von Britney, de Gustavo von Ha, no mês passado, para o MAC-USP, que se tornou o primeiro museu brasileiro a ter uma obra em NFT em seu acervo.
A iniciativa, que partiu de uma equipe liderada pelo empresário Daniel Peres Chor, ganhou um reforço em fevereiro deste ano, com a entrada de Fabio Szwarcwald (que foi diretor do MAM Rio e da Escola de Artes Visuais do Parque Lage). Ele conta à arte!brasileiros que vêm acompanhando esse mercado desde 2021, curioso por esse novo momento, que veio as criptomoedas e depois com os contratos de NFT. As criptomoedas, aliás, já eram realidade no mercado da arte há bastante tempo, muitas galerias e artistas já aceitavam pagamentos em criptomoedas para obras físicas antes mesmo da criptoarte surgir.
“A produção de arte computacional acontece já há mais de 30 anos. Essa coisa do artista produzir obras de arte usando o computador como pincel já existe há muito tempo. Temos como exemplo Bill Viola e Janet Cardiff”, comenta Szwarcwald. O problema antes, ele explica, é que a tecnologia de armazenagem para esse tipo de produção ficava obsoleta muito rápido, o que poderia tornar as obras efêmeras. O contrato digital inteligente gravado na blockchain, que é o NFT, faz com que isso não seja mais um problema, já que a obra estará para sempre na carteira digital do colecionador.
Na SP-Arte, a Tropix trabalhou com 12 galerias, 20 artistas e 35 obras, em um estande que teve curadoria de Marcio Harum. “Foi muito bacana e muito sério o trabalho feito pelo nosso curador, no qual ele traz artistas mais renomados junto a artistas que estão trabalhando há menos tempo com essa tecnologia. Tínhamos nomes como a Gretta Sarfaty, que teve seu trabalho considerado como um dos melhores da feira, e outros mais jovens, como o PV Dias”, Fabio pontua. Um dos grandes eventos do estande foi o lançamento da obra Anunciação (Amazônia Mega Drive), de Thiago Martins de Melo, exibida em 3D como um holograma, mostrando que as obras digitais não são apenas para ficarem nas televisões.
Diferente de outras plataformas, a Tropix tem como foco trabalhar com grandes galerias do Brasil e também do exterior. Dentre as parceiras estão nomes como Jaqueline Martins, Verve, Leme, Millan e Zipper. “Entendemos que as galerias já têm um trabalho curatorial para selecionar os artistas e os ajudam muito nessa estratégia de entrar nesse mercado de arte computacional. Mas também entendemos que existem vários profissionais que não têm galeria e que fazem um trabalho muito interessante”, explica Szwarcwald. O artista envia o seu projeto para a Tropix, que passa por uma avaliação do time curatorial da plataforma. Fabio adiciona que essa inclusão de artistas independentes também vem pelo fato de que quem produz arte digital/computacional não era um artista que as galerias se interessavam tanto anteriormente, mas que com a tecnologia do NFT, que torna tudo mais seguro e transparente, esse interesse foi surgindo.
Algumas galerias renomadas, inclusive, fizeram a sua própria galeria de arte digital. É o caso da Leme, com a Leme NFT, e a Kogan Amaro, com a Kogan Amaro Digital Gallery. A primeira utiliza como marketplace a plataforma da Tropix. Já a segunda, utiliza a plataforma Foundation para promover suas vendas. O diretor da Kogan Amaro, Ricardo Rinaldi, conta que a equipe vem acompanhando com entusiasmo esse novo mercado e que o projeto da galeria de arte digital vinha sendo estruturado desde o ano passado.
O primeiro lançamento de obra em NFT feito pela Kogan Amaro foi em parceria com a Tropix, com uma uma animação em stop motion feita por Mundano. A obra é uma parte da exposição que o artista realizou na galeria no início deste ano, intitulada Semana de Arte Mundana. Agora, utilizando outra plataforma para vendas, a galeria teve um espaço dedicado às obras em NFTs na SP-Arte.
Em um estande híbrido, com obras físicas e digitais, a galeria montou um grande painel vertical de LED para exibir os trabalhos em NFTs. A Kogan Amaro trabalha com artistas que já faziam apenas obras digitais, mas também tem incentivado seus artistas representados a produzirem obras em NFTs, como Daniel Mullen, Fernanda Figueiredo, a dupla Tangerina Bruno e o próprio Mundano. Rinaldi conta também que eles têm auxiliado os colecionadores a entrarem nesse novo mercado, ajudando-os a construir a sua própria carteira digital, por exemplo. A galeria também criou um sistema para aceitar pagamento em dinheiro por essas obras, não só em criptomoedas.
Mais novidades por aí
Szwarcwald anunciou que a Tropix está trabalhando em um sistema – que será consolidado em um aplicativo – para certificar obras físicas também em NFT, chamado OffPix: “A ideia é oferecermos isso para os galeristas como uma forma de conseguirmos criar toda essa certificação via blockchain, com contrato de NFT, trazendo uma segurança muito maior para o mercado no geral”. Além de obras de arte em todos os suportes, poderão ser certificadas outras coisas que possuem assinaturas e certificados, como móveis. Essa certificação garantirá uma segurança maior na negociação das obras, além de maior transparência.
Outros setores que utilizam os NFTs, como o de jogos, têm investido muito na ideia de metaverso, levando até mesmo lojas e shows para dentro de seus “mundos” virtuais que simulam a realidade a partir de ferramentas como a de realidade virtual. A Tropix tem planejado também abrir uma galeria no metaverso, na intenção de expandir o leque de colecionadores, podendo atrair inclusive potenciais colecionadores mais jovens, de uma geração que já está digitalmente conectado em seu dia a dia: “Vemos o metaverso como uma oportunidade que está se abrindo, muito importante para as pessoas começarem a ter uma nova relação com a tecnologia e também com outras pessoas”. Fabio assinala que até mesmo a realização de performances é possível nesse outro ambiente.