O Terreiro do Paço Imperial, no Rio de Janeiro, recebe mais de 30 obras a partir desta quinta-feira (1). São trabalhos de Coletivo Coletores, Josi, UÝRA e Vitória Cribb, vencedores do Prêmio PIPA 2022. Entre os 61 indicados este ano – sendo todo artistas e coletivos com até 15 anos de carreira -, os quatro foram escolhidos pelo Conselho do PIPA por serem considerados um conjunto representativo do cenário artístico brasileiro atual. Além da participação na mostra, os premiados recebem uma doação de R$ 20 mil cada.
“Este conjunto de 2022 mostra um ecossistema artístico bastante complexo, misturando poéticas que remetem a práticas mais artesanais, até o envolvimento radical com a tecnologia. Acima de tudo, vemos nestes artistas um engajamento poético e político com o universo periférico e com uma experimentação ecológica e social que integra o humano a todas as formas de vida proliferantes”, escreve o curador Luiz Camillo Osório.
A escolha deste ano concretiza a reformulação proposta pelo PIPA em 2020, quando o prêmio passou a selecionar mais de um vencedor por edição. “Mais do que concentrar em um único nome, percebemos que dividir o prêmio é mais justo, tendo em vista um cenário tão plural e continental como o brasileiro, com tantas micro-cenas relevantes de norte a sul do país”, explicou o curador em entrevista à arte!brasileiros em 2021.
Neste cenário, a exposição deixa de ter caráter competitivo para tomar forma de celebração. Assim, Coletivo Coletores, Josi, UÝRA e Vitória Cribb dividem o Terreiro do prédio colonial com obras justapostas, “posicionadas de forma a evidenciar as permeabilidades possíveis e aumentando sua potência como conjunto. Sem uma expografia rígida, eles criam juntos um espaço de forma livre e fluida – a exposição é escrita a várias mãos”, explica a organização em suas comunicações oficiais.
Além de trabalhos dos quatro vencedores de 2022, quem visita o Paço Imperial tem a oportunidade de ver obras comissionadas e adquiridas pelo Instituto PIPA nos últimos anos. São trabalhos de artistas contemporâneos brasileiros que fazem parte da história do Prêmio: Eduardo Berliner, Leticia Ramos, Romy Pocztaruk, Ilê Sartuzi, Denilson Baniwa e Isael Maxakali.
Os premiados
Formado em 2008 na Zona Leste da cidade de São Paulo pelos artistas e pesquisadores Toni Baptiste e Flávio Camargo, o Coletivo Coletores tem como proposta pensar as cidades como meio e suporte para suas ações, utilizando diferentes linguagens visuais e tecnológicas, discutindo temáticas ligadas às periferias, apagamentos históricos/culturais, assim como o direito à cidade. Nesta exposição, o grupo apresentará um trabalho em videomapping na fachada do Paço Imperial e exibirá uma vídeo-instalação em NFT, Histórias que não ninam. No dia da abertura, o coletivo ainda circulá pela cidade do Rio de Janeiro com uma de suas projeções.
Nascida em Itamarandiba, a mineira Josi viveu sua infância em Carbonita, no Vale do Jequitinhonha (MG). Formada em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais, passou pela graduação em Artes Plásticas na Escola Guignard-UEMG e hoje busca trançar os saberes ouvidos e testemunhados na academia e “inscritos na musculatura das mãos: as artesanias várias, a pintura, lavação de roupa, o fiar, a escrita, desenho, a cozinha e a cerâmica”, explica em texto publicado pelo PIPA. Nesta exposição, a artista traz algumas esculturas em cerâmica e uma série de pinturas com uma técnica original desenvolvida por ela: o uso de água de feijão preto sobre papel e tecido.
UÝRA traz um pouco da floresta Amazônica para o prédio colonial a partir de bandeiras com fotos da cobertura das árvores da floresta. Nos tecidos, o público pode ver os animais que habitam a Amazônia, por meio do desenho feito pelas folhas das árvores. A artista é Emerson, pessoa trans (dois espíritos) e indígena formada em biologia e mestre em ecologia. Ela habita Manaus (AM), território industrial no meio da Floresta, onde se transforma para viver UÝRA, uma árvore que anda. Tendo o corpo como suporte, a artista narra histórias de diferentes naturezas via foto performances e performances. “A partir da paisagem cidade-floresta, se interessa pelos sistemas vivos e suas violações, pela memória e diásporas indígenas”, explica a organização do PIPA em suas páginas oficiais.
Filha de pai haitiano e mãe brasileira, Vitória Cribb vem criando nos últimos anos narrativas digitais e visuais que permeiam técnicas como criação de avatares em 3D, filtros em realidade aumentada e ambientes imersivos, utilizando o ambiente digital como meio para explicar suas investigações e questões atuais percorridas por seu subconsciente. A artista investiga os comportamentos e desenvolvimentos de novas tecnologias visuais/sociais e transpõe o seu pensamento através da imaterialidade presente no digital.
Serviço
Prêmio PIPA 2022: Exposição dos Premiados e Aquisições Recentes
Paço Imperial: Praça XV de Novembro, 48 Centro, Rio de Janeiro
1º de setembro a 30 de outubro
Visitação de terça a sábado, das 12h às 17h
Entrada gratuita