Restos de observatório e de igreja, fruto da demolição da demolição do Morro do Castelo, Rio de Janeiro, RJ (1922), em "Moderna pelo avesso". Foto: Augusto Malta/Acervo Instituto Moreira Salles/Coleção Gilberto Ferrez
Restos de observatório e de igreja, fruto da demolição da demolição do Morro do Castelo, Rio de Janeiro, RJ (1922), mostra "Moderna pelo avesso". Foto: Augusto Malta/Acervo Instituto Moreira Salles/Coleção Gilberto Ferrez

As fotografias do surgimento das cidades, no final do século 19 e início do século 20, foram associadas a uma ideia de progresso e de modernidade. Imagens que apresentavam destruições de casebres, alargamento de ruas, a transformação de vilas em projetos urbanísticos. Essa ideia, provavelmente, surgiu porque quase todas as produções tinham um caráter patrimonialista, ou seja, fotógrafos que eram contratados por prefeituras ou empresas de engenharia para registrar a força e a pujança. Imagens ligadas à belle époque e à modernização.

Mas, as cidades são formadas por pessoas, que nem sempre foram integradas a este projeto imagético de um imaginário urbano, pelo contrário, muito pelo contrário, muitas vezes imagens do cotidiano foram esquecidas.

No ano em que comemoramos o centenário da Semana de Arte Moderna, o Instituto Moreira Salles (IMS Paulista) investiga a relação entre fotografia, cinema silencioso e cultura urbana, por meio da exposição Moderna pelo avesso: fotografia e cidade, Brasil, 1890-1930, com curadoria de Heloisa Espada e assistência de Beatriz Matuck.

“Queria apresentar as contradições que afloram quando pensamos em projetos de urbanização, trazer imagens pouco conhecidas, e fazer a ligação também com o cinema não sonoro”, explica Heloisa.

A pesquisa de Moderna pelo avesso levou dois anos para ser concluída, as cidades apresentadas são o Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre, Recife, Belém e Belo Horizonte. Ao invés das imagens muitas vezes vistas de forma esparsa ou em contextos isolados, a exposição nos apresenta um ensaio visual, um conjunto crítico do que aconteceu naqueles anos, um processo político de apagamento da nossa história.

“São reformas urbanas como o ‘bota-abaixo’, que, entre 1903 e 1908, expulsou a população de baixa renda e arrasou o patrimônio colonial do centro do Rio de Janeiro, e a inauguração da Cidade de Minas [depois chamada de Belo Horizonte], planejada do zero, em 1897. Elas forjavam a roupagem moderna da jovem República. No entanto, uma Abolição mais do que tardia, proclamada apenas um ano antes do golpe que instituiu a República, fazia com que o moderno não fosse apenas sinônimo de atualidade e progresso, mas também de violência, apagamento e eugenia”, afirma Heloisa.

Para fugir do estereótipo imagético, várias revistas ilustradas – em que a imagens eram divulgadas naqueles anos – foram folheadas, arquivos de museus pesquisados e acervos pessoais encontrados. Trezentos e onze imagens apresentadas em diversos formatos, como cartões-postais, álbuns, estereoscopias e projeções em lanterna mágica e filmes. Os materiais exibidos em Moderna pelo avesso provêm do acervo do IMS e de outras 28 coleções, entre privadas e institucionais, como Fundação Joaquim Nabuco, Fundação Biblioteca Nacional, Museu Paraense Emílio Goeldi e Museu de Porto Alegre Joaquim Felizardo.

E assim, ao mesmo tempo em que vemos a urbanização, em Moderna pelo avesso também temos acesso a filmes que mostram o mundo do trabalho infantil no curta Cerâmica Horizontina, de 1920, filmado por Igino Bonfioli, ou ainda o espetáculo da ressaca nas praias no Rio de Janeiro, fotografada por Augusto Malta, aonde os cariocas iam para se fotografar, muito antes do modismo do Instagram. Assim como muitas fotos de álbuns de família que deveriam contar a história do cotidiano, e não as imagens oficiais.

De forma provocatória, a exposição Moderna pelo avesso termina com pedaços do filme Limite, de Mario Peixoto, rodado em 1930 e apresentado em 1931, com fotografia de Edgard Brasil, com closes e enquadramentos inovadores para época.

SERVIÇO

Moderna pelo avesso: fotografia e cidade, Brasil, 1890-1930
Instituto Moreira Salles – Paulista: Avenida Paulista, 2424, São Paulo (SP)
Até 26 de fevereiro de 2023
Visitação: terça a domingo e feriados, das 10h às 20h
Entrada gratuita

 

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