Desta quinta (26/1) até domingo, o Teatro Sesc Pompeia recebe O Bailado do Deus Morto, com o Teatro Oficina. Com direção de Marcelo Drummond, as quatro apresentações marcam o encerramento das visitações à exposição Flávio de Carvalho Experimental, em que as curadoras Kiki Mazzucchelli e Pollyana Quintella se debruçaram sobre a multifacetada obra do artista, autor da dramaturgia original do espetáculo.
A peça foi escrita por Flávio de Carvalho em 1933 para a abertura do Teatro da Experiência, um projeto para prática e apresentações, em que o teatro fosse vivido como uma experiência cênica, arquitetônica, humana e dramatúrgica. O espaço chegou a abrigar a estreia e algumas poucas apresentações de O Bailado, com seu coro de músicos negros da então recém-nascida escola de samba Vai-Vai, vestindo as máscaras de alumínio desenhadas pelo próprio artista. Perseguido pela censura, o Teatro da Experiência foi fechado pela polícia após poucas apresentações.
O Teatro Oficina já havia montado o espetáculo em mais de uma ocasião, como na 29ª Bienal de São Paulo e no Festival de Arte Serrinha em Bragança Paulista, ambos em 2010. Em agosto de 2019, a companhia foi convidada para encená-lo na mostra Flávio de Carvalho – O antropófago ideal, na galeria Almeida e Dale. E em 2020, vinha fazendo apresentações em seu próprio espaço, interrompidas com o início da pandemia.
Naquele mesmo ano, a peça chegou a ganhar uma versão online, que esteve em cartaz em três temporadas, entre agosto de 2020 e março de 2021. Em dezembro de 2021, O Bailado voltou a ter apresentações presenciais no Oficina, logo suspensas pela onda da variante ômicron. No Sesc Pompeia, de acordo com Marcelo Drummond, em relação à montagem mais recente, do segundo semestre do ano passado, no próprio Oficina, foram necessárias somente algumas mudanças nas marcações do elenco no palco.
Com cerca de uma hora de duração apenas, o espetáculo mescla teatro e dança, em que o elenco traja máscaras de alumínio e realiza movimentos dinâmicos e ritualistas. Segundo Drummond, as instruções (rubricas) deixadas por Carvalho para tais movimentos eram um tanto rígidas e foram adaptadas. “Ele orientava para colocar os braços ora em V, ora em L etc. A gente foi mudando, de acordo com o sentíamos que melhor funcionava, mas usando as mesmas referências”, diz.
Drummond também ressalta que modificaram muito pouco o texto de 1933, em que “quase tudo é cantado”, mas que O Bailado do Oficina não copia os figurinos originais e foi quase todo musicado, com um banda em cena, “com uma cara meio de missa”.
“É uma mini-ópera, não chega a ser uma opereta, porque não tem um caráter cômico. Ao mesmo tempo, ele tem uma coisa plástica muito forte, que o aproxima de uma instalação, de uma performance de artes plásticas, misturada ao teatro, tudo com um visual muito diferente e bonito”, conta Drummond.
O diretor salienta ainda que a companhia partiu das próprias propostas estéticas diversas de Flávio de Carvalho e as trouxe para o palco, em vez de simplesmente replicá-lo. “Não iria dar certo. A gente, então, trabalhou em cima do trabalho dele, buscando um diálogo com o teatro que a gente faz. Afinal, o Oficina fez uma leitura do Modernismo muito forte, isso ficou impregnado na gente, que viemos já em outra fase de sua história. Então, o que vemos é um espetáculo contemporâneo, porque os corpos são contemporâneos”, conclui.
SERVIÇO
O Bailado do Deus Morto
Desta quinta (26/1) a domingo
Com o Teatro Oficina Uzyna Uzona
Teatro Sesc Pompeia – R. Clélia, 93 – Água Branca, São Paulo (SP)
Horário: quinta a sábado, às 21h; domingo, às 18h
Ingressos: R$ 30 (inteira); R$ 15 (meia); R$ 10 (credencial plena)
Vendas presenciais às 17h; online, no link