Cena Cavalaria da PM ocupa parte da Avenida Paulista, São Paulo, no dia 11 de junho
Cena Cavalaria da PM ocupa parte da Avenida Paulista, São Paulo, no dia 11 de junho. Foto: Camila Picolo

Por Antonio Bivar*

Já que aqui se importa tudo, sou a favor da importação de médicos. O convívio com colegas de profissão locais será produtivo. Sou também a favor de importar políticos que deram certo lá fora para exercerem cargos de escol em Brasília. Tipo “senador honorário”. Importaria Tony Blair (agora que virou católico) e Bill Clinton, que curte uma pelada. No País do Futebol, não seria uma boa jogada?

É que sou anarquista por natureza desde antes do punk. Só sei que não dá mais para ficar em cima do muro – corre-se o risco de levar bala e bomba. Qualquer descuido pode ser fatal. E já que está na ordem do dia mudar tudo, que as mudanças comecem de baixo e não de cima. Eu, no meu direito de cidadão, e já que moro num subúrbio e faço uso do transporte coletivo, reivindico melhoria radical no asfalto e corredores para ônibus. Tenho levado mais de duas horas para ir ao centro e outro tanto ou mais, na volta pra casa. Os ônibus são verdadeiras máquinas de tortura nazista. E para que tanta catraca, se depois de subir os íngremes degraus o usuário já quica o passe?! Estou falando dos ônibus em São Paulo, já que os do Rio são mais racionais – não têm degraus, são planos e com ar condicionado. Não sei quem bolou os ônibus paulistanos. São mal ajambrados, assentos apertados, desconfortabilíssimos. O metrô, por outro lado, ainda que superlotado, é muito bom. Mesmo o usuário viajando feito sardinha enlatada, a viagem flui bem, é rápida e logo você pode suspirar aliviado ao descer na sua estação.

Como também sou pedestre, outra coisa que incomoda é constatar a crescente demografia de moradores de rua, os sem-teto. Além de ser uma coisa muito triste, é anti-higiênica. Não existem WCs para tanta gente. Conversei com uma miserável, até muito bem informada, e ela me mostrou a pele toda carcomida por ácaros e outras bactérias que atacam os moradores das ruas do Centro e, por tabela, os transeuntes que passam perto. Disso parece que as autoridades nem tomam conhecimento. Por mais que uns e outros da brigada pão & circo promovam novos locais de arte e lazer bonitinhos, no geral o que se vê é uma concentração de gente mal protegida por caixotes de papelão. O Centro da capital é a coisa mais abandonada da baixa América. Por isso, viva aos manifestantes.

É preciso mudar tudo e começar de baixo, desde o preço das passagens. Governador, prefeito e políticos em geral já viajaram nos coletivos. Sim, uma vez e outra, durante a campanha, para dar a impressão de que são gente como a gente, mas garanto que nessas viagens de marketing fizeram vista grossa e bunda leve para o desconforto do povo em geral.

 


*Escritor e dramaturgo

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