Foto: Bruno Alfano
Foto: Bruno Alfano

  • Laíssa Barros

Quem nunca viveu uma história que daria um filme? Os dias tragicômicos vividos pela atriz Martha Nowill no auge do inverno de Moscou de 2009 não só dariam como se transformaram em Vermelho Russo, longa-metragem que chega hoje aos cinemas.

Muita vodka, risadas, perrengues e choradeiras aconteceram durante a viagem que Martha fez a Rússia para estudar a famosa técnica Stanislavski de interpretação. Ela escreveu em um diário, que acabou virando a gênese do roteiro do filme, as situações, os dramas e surrealidades que vivenciou em uma das cidades mais peculiares do mundo.

No filme, em meio à neve ela chega a Academia Russa de Arte Teatral junto com uma amiga, a também atriz, Manu (Maria Manoella, com quem Martha foi, de fato, fazer o curso na Rússia) sem saber falar uma vírgula do idioma local. As duas em busca de se reinventarem na profissão vão fazer as aulas do método com um professor rígido (Vladimir Poglazov), que, com a ajuda de uma interprete, corrige e crítica quase todos os passos das duas atrizes e dos demais colegas de classe. Além da dupla, o filme conta com as participações de Michel Melamed, Soraia Chaves e Esteban Feune de Colombi.

Constantemente testadas pelo professor, desapontadas e com muito frio, as duas refletem sobre as dificuldades da profissão, os caminhos que escolheram e a amizade uma da outra, que ao longo do filme é testada e extrapolada por muitas vezes.

Com direção de Charly Braun, que também assina o roteiro, Vermelho Russo acaba sendo um misto de ficção e documentário, onde o diretor abusa da fotografia lindíssima de uma Moscou cheia de luzes, neve e arquitetura histórica, ao mesmo tempo em que segue as atrizes com uma câmera documental muito próxima, principalmente no momento de suas aulas, dentro de seus quartos e, até mesmo, no meio de suas brigas.

O frio deve ter impedido, claro, a vivência das atrizes fora dos espaços fechados, faltam mais cenas e imagens da cidade que não sejam da escola, dormitório, restaurantes e metrôs. Mas, ao mesmo tempo, ele amplia o sentimento de clausura diante da temperatura. Condição que intensifica os sentimentos de medo, busca e fuga que, por vezes, rodeia as duas atrizes. Nos vemos em um divertido caleidoscópio de possibilidades tentando descobrir o que elas teriam vivido realmente em 2009 e o que seria ficção para o filme de 2017.

Nessa “montanha russa”, os dias passam rapidamente e um misto de felicidade e infelicidade visitam Martha e Manu: seja em um raro elogio do professor, em um bate-boca, em encontros com atores aposentados que se refugiam nos dormitório da Academia Russa de Arte Teatral, nas situações hilárias que vivem por não entenderem a língua ou nas singularidades de um povo com uma cultura bem diferente da nossa, até mesmo na forma de atuação teatral.

Com esse cruzamento improvável de frivolidade e profundidade, Vermelho Russo fala sobre os dias que se movem, sobre nossos olhos diante das novidades e das diferenças, de teatro e da busca eterna por sentimentos, afirmações e conexões com o que fazemos em nossas vidas.

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