Pela segunda vez, Lisette Lagnado conquista a curadoria de uma bienal após apresentar um projeto e ser avaliada por uma comissão independente. Agora, ela será a curadoria da 11a. Bienal de Berlim, em 2020, junto com a chilena María Berríos, a argentina Renata Cervetto e o espanhol Agustín Pérez Rubio.
Em 2005, Lagnado foi escolhida para organizar a 27ª. Bienal de São Paulo, realizada em 2006 com o título Como viver junto, a partir de seminários do filósofo Roland Barthes, nos anos 1970, tendo por inspiração as obras de Hélio Oiticica.
É a segunda vez que a América Latina lidera a mostra alemã já que, em 2014, ela foi organizada pelo curador colombiano Juan Gaitán. O time escolhido agora é um grupo que nunca trabalhou junto, mas gravita tem torno da América Latina com práticas transgressoras. Rubio dirigiu o Malba (Museu de Arte Latinoamericano de Buenos Aires) nos últimos quatro anos, onde teve uma programação que reforçou a presença de artistas mulheres,como Claudia Andujar, além de um radical programa educativo na instituição. Ele organizou em São Paulo a mostra Memórias inapagáveis, a partir do acervo da Associação Cultural Videobrasil, no Sesc Pompéia, em 2014. Antes, Rubio dirigiu o Musac (Museu de Arte Contemporânea de Castilla e Leon), onde dedicou boa parte de seu trabalho a artistas latino-americanos. A curadora argentina Cervetto trabalhou com Rubio no Malba nos programas públicos.
Já Lagnado é reconhecida como das curadoras mais experimentais no Brasil. A bienal Como viver junto inspirava-se na obra de Oiticica, mas não apresentou obras do artista, apenas de contemporâneos que produziam trabalhos com princípios semelhantes. Em 2010, ela organizou Desvios de la Deriva, Experiencias, Travesías, y Morfologias, junto com Berrios, no museu Reina Sofia, em Madri, mostra que tinha como um dos eixos centrais a obra de Flavio de Carvalho (1899 – 1973) e suas ações provocadoras.
Ela dirigiu ainda a Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio, entre 2014 e 2017, dedicando-se à educação em artes, o que já tinha iniciado em São Paulo, no programa de mestrado da Faculdade Santa Marcelina.
Já Berrios, além de curadora também participou da 31ª. Bienal de São Paulo, Como …. coisas que não existem, em 2014, no projeto artístico A revolução deve ser uma escola de pensamento irrestrito, organizada junto com o dinamarquês Jakob Jakobsen, baseada na mostra Del Tercer mundo, que aconteceu em 1968, em Cuba, centro de uma série de eventos que buscavam debater o papel da arte e da linguagem no contexto de luta contra o imperialismo.
O grupo passa a viver em Berlim já no início de 2019 e irá suceder uma Bienal com uma repercussão altamente positiva, We don´t need another hero, liderada pela sul-africana Gabi Nboco com outros quatro curadores, entre eles o brasileiro Thiago de Paula Souza.
Enquanto a Fundação Bienal de São Paulo segue com indicações imperiais, tanto o curador da Bienal como do representante brasileiro em Veneza são escolhidos pelo presidente da instituição, Berlim é um exemplo de processo democrático.
A comissão deste ano foi formada pelos curadores Doryun Chong (M+, Hong Kong), Adrienne Edwards (Whitney Museum, Nova York), Reem Fadda, Solange O. Farkas (Associação Cultural Videobrasil, São Paulo), Krist Gruijthuijsen (KW, Berlim), Miguel A. López (TEOR/éTica, San José) e o artista Omer Fast (Berlim). O grupo reuniu-se três vezes: uma para conhecer as regras e começar a indicação de nomes, outra para selecionar os projetos a serem avaliadas de forma presencial, e a última para entrevistas e seleção final.
A Bienal de Berlim foi criada em 1997 pelo KunstWerke (KW) e tem como principal patrocinador a Fundação de Cultural Federal da Alemanha, com cerca de 3 milhões de euros (R$ 13 milhões), o orçamento da 33ª Bienal de São Paulo é o dobro, R$ 26 milhões, a maior parte vinda por meio de leis de incentivo, ou seja, verba pública.