Com aproximadamente 83 mil visitantes entre os cinco dias que a Art Basel Miami Beach ficou aberta para visitação no último dezembro, a feira recolheu números animadores em relação às vendas promovidas pelas galerias participantes. Boas notícias também para a arte latino-americana, que sempre se destaca na feira.
A organização da feira anunciou que as vendas foram fortes em todos os níveis do mercado. Porém, cada vez se torna mais evidente a força dos compradores de países próximos. A regionalização das edições da feira tem sido algo constatado por muitos nos últimos anos. Por ter edições em vários continentes, a Art Basel tem visto alguns de seus frequentadores preferirem esperar a edição mais próxima a atravessar o oceano para comprar obras de arte. Ainda assim, visitas de colecionadores e de representantes de instituições como o Centre Pompidou, de Paris, e a Serpentine Galleries, de Londres, não decepcionam.
No evento de 2018, algo chamou a atenção das galerias que participavam: a vontade dos compradores em quererem inserir em suas coleções obras de artistas negros, latinos e de mulheres artistas. Esse desejo revela de alguma forma a força das reivindicações de movimentos que lutam contra o apagamento da produção artística feita por esses grupos sociais.
As galerias brasileiras reportaram certo êxito em suas vendas. Dentre as 14 brasileiras, a Galeria Nara Roesler, com sede em São Paulo, Rio de Janeiro e Nova Iorque, vendeu obras de nomes como Vik Muniz, Tomie Ohtake, Julio LeParc e Artur Lescher. Já a Bergamin & Gomide negociou trabalhos de Ivan Serpa e de Leonílson.
As duas são as únicas casas do Brasil que também participam da edição da feira em Hong Kong, entre os dias 29 e 31 de março. A Nara Roesler apresentará trabalhos de alguns dos artistas que fizeram sucesso em Miami Beach, mas também integra ao time obras de Xavier Veilhan, Hélio Oiticica e José Patrício. A paulistana Bergamin & Gomide irá apostar em obras de Jac Leirner, Rivane Neuenschwander, Jim Hodges, Lorenzato e Mira Schendel.
Participando do setor Discoveries com a galeria Commonwealth and Council, de Los Angeles, a brasileira Clarissa Tossin, representada no Brasil pela Galeria Luisa Strina, apresentará alguns trabalhos que desenvolveu recentemente (Leia entrevista com Clarissa clicando aqui). Partindo de ideias levantadas pela escritora Octavia E. Butler na triologia Xenogenesis (1989), Tossin traz à luz “uma materialidade pós-apocalíptica” que envolve as questões ecológicas do planeta, considerando “as tradições estéticas das pessoas nativas da Amazônia em relação à cultura contemporânea de mercadorias”. Destaque também para o artista Rirkrit Tiravanija, nascido na Argentina, que estará exibindo uma obra sem título, de 2018, feita de folha de ouro escrita em caracteres chineses, que pode ser traduzido como “Estamos sonhando sob a mesmo céu”, colado em um jornal.
O evento em Hong Kong terá a participação de 242 galerias, de 35 países. Num movimento que também demonstra um pouco dessa regionalização das edições da feira, o setor Kabinnet terá foco em artistas da Ásia, apresentando tanto nomes já consagrados quanto artistas em ascensão. Serão, ao todo, 21 apresentações conceituais em espaço delimitado e com curadoria especial dentro dos estandes. Destaques para Simon Starling no The Modern Institute e Joan Miró, na Galeria Lelong.
No setor Film, o artista multimídia e produtor de filmes Li Zhenhua separou 27 obras de cinema e vídeo que abordam o contexto sociopolítico atualmente, incluindo trabalhos que foram exibidos em grandes festivais, como Spring Fever, de Lou Ye, que chegou ganhar o prêmio de melhor roteiro em Cannes em 2009 e Dong, de Jia Zhangke, exibido no Venice International Film Festival e no Toronto International Film Festival em 2006. Em Conversations, o destaque fica por conta da conversa entre diversos curadores que produziram exposições com base na geografia asiática “discutindo o formato de exposição como um modo de fazer mapas que buscam novas compreensões, perspectivas e des/conexões em uma região composta de muitas regiões”.