Por falta de docentes, o curso de Artes Visuais da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo cancelou 11 disciplinas a uma semana do início das aulas do semestre letivo, devido à revogação do contrato de diversos professores. Os estudantes e professores apontam descaso da reitoria para com os alunos das artes – o corte de professores afeta um terço da grade do curso, tornando inviável a graduação. O curso de Artes Visuais da USP foi o 12º mais procurado no último vestibular da universidade, com quase 31 candidatos por vaga.
Em uma manifestação convocada pelos estudantes de Artes Visuais da universidade para a última sexta-feira (11/7), na Avenida Paulista, foi divulgada uma carta aberta de diversos movimentos que aderiram ao protesto, como o Juventude Já Basta!. Eles receberam o apoio da Comissão Técnica Administrativa da ECA (CTA) em uma reunião na universidade no dia 8. Os manifestantes apontaram à CTA que muitos estudantes da ECA não conseguiram se matricular em disciplinas (algumas obrigatórias) e, portanto, encontram dificuldades em dar continuidade aos seus estudos. O descaso mostra uma situação paradoxal: segundo ranking divulgado há pouco mais de um mês, a USP é a melhor instituição de ensino superior da América Latina e a 85ª melhor do mundo, segundo a 20ª edição da lista QS World , um dos mais respeitados rankings de qualidade universitária do mundo. A lista já se refere a 2024.
O sucateamento, que parece programático, atinge diversos outros cursos da universidade, como Música, Artes Cênicas e Jornalismo. Há cortes de bolsas e precarização da moradia estudantil, o que pode contribuir para que a universidade entre num processo de degradação irreversível. “A falta de contratação de professores num curso como o de Artes Visuais da USP limita as oportunidades de desenvolvimento de novos talentos, como ainda compromete o prestígio da instituição e sua capacidade de atrair estudantes, parcerias e projetos relevantes, comprometendo a manutenção de um corpo docente qualificado e estável, vital para a qualidade do ensino na Universidade e desde seu início conectado à comunidade cultural e artística, desempenhando papel fundamental na formação de profissionais ligados à área”, diz a carta.
FORMATURAS ADIADAS
Das 11 disciplinas canceladas, já estava prevista a supressão de cinco delas, por falta de docentes ou sobrecarga de trabalho dos professores do Departamento de Artes Plásticas (CAP). Mas o anúncio de que outras seis disciplinas foram canceladas surpreendeu alunos e professores. As disciplinas não serão ofertadas porque os contratos de três docentes temporários do CAP deixaram de ser renovados, e não há outros disponíveis para assumi-las. Outras 11 disciplinas que deveriam ser ofertadas no primeiro semestre de 2024 também enfrentam indefinição até o momento.
A suspensão das disciplinas trouxe confusão também porque foi anunciada após a organização da grade horária do curso e das matrículas para o segundo semestre. De acordo com reportagem da Associação de Docentes da USP (Adusp), os estudantes tiveram que reorganizar às pressas as suas matrículas para conseguir o número mínimo de créditos para o semestre, e há casos de alunos que terão que adiar a formatura por falta da oferta de disciplinas. Um estudante lembrou que a situação pode ficar ainda pior, porque há previsão de cinco aposentadorias no CAP até 2026, uma delas já no ano que vem. Os alunos também alertaram que a falta de docentes pode acarretar a impossibilidade de uso do Laboratório de Modelagem e Fabricação Digitais e a redução de ofertas do Programa Unificado de Bolsas (PUB) no curso.