“Estratégias Conceituais”, em cartaz na Galeria Bergamin & Gomide, se debruça sobre a sólida parceria que se estabeleceu entre arte política e conceitualismo na América Latina. Essa sincronia entre uma arte que rompe com os modelos formais e um discurso mais aguerrido, conectado com os acontecimentos associados à repressão política vivenciada no período das décadas de 1970 e 1980, fica evidente nas cerca de 80 obras selecionadas para a mostra pelo curador Ricardo Sardenberg. Sua intenção não é fazer uma revisão histórica, nem tampouco esquematizar essa ampla produção em núcleos temáticos, formais ou geográficos. Pelo contrário, é pela diversidade e pelo adensamento que Sardenberg se aproxima do tema. E de certa maneira o atualiza.
“São diversas estratégias de produção e disseminação, por vezes de matizes ideológicos opostos”, explica o curador, ao reafirmar que de certa forma sua estratégia é a de diluir as grandes autorias, inserindo-as num conjunto mais amplo e diverso. Evidente que estão representados os artistas que mais se destacaram ao longo desse processo e que há uma ligeira predominância de autores brasileiros (que correspondem a cerca de 60% da lista). A seleção – que não compreende apenas obras de arte, mas também projetos, textos, documentos – começa com um trabalho mais antigo, realizado em 1962, por Augusto de Campos. E se encerra no final da década de 1980 com uma obra de Jac Leirner. Dentro desse intervalo há espaço para poéticas distintas, de artistas como Cildo Meireles, Victor Grippo, Lygia Pape e León Ferrari. Para reunir esse grupo, foi necessário recorrer a diversas coleções e, apesar de ocupar uma galeria comercial, nem todos os trabalhos estão à venda.
Segundo Sardenberg, a mostra peca propositalmente pelo excesso, como se a curadoria procurasse “redesmaterializar” esses objetos, diminuir a fetichização a que foram submetidos nas décadas subsequentes e reforçar aspectos importantes dessas propostas como sua intenção política, a revolta contra a mercadoria que marca a arte conceitual e a ênfase numa arte de caráter coletivo.
Não é uma coincidência que tantas exposições tenham, agora e no passado recente, se debruçado sobre esse período de contestação, no qual a arte se transforma também em linguagem de combate e resistência. É possível citar, por exemplo, as exposições Mulheres Radicais, na Pinacoteca do Estado e AI-5, no Instituto Tomie Ohtake (ver artigos nas pgs. … e …). Olhar para o passado ilumina, sem dúvida, o presente sombrio, mas é preciso ter em mente de que os tempos são outros. “O impulso autoritário é semelhante, mas não é o mesmo”, pondera o curador.