Inaugurada dois dias antes do segundo turno das eleições presidenciais e chamada pelos
próprios organizadores de “mostra-manifesto”, Rejuvenesça! é uma exposição que não tem medo de tomar um partido quando se trata de defender a democracia e os direitos no Brasil. Produzida pela artista Renata Lucas, a mostra conta foi concebida em poucas semanas, num caráter de urgência para se posicionar em um momento conturbado da História do país, trazendo obras dos artistas Anri Sala, Arto Lindsay, Carla Zaccagnini, Carlos Fajardo, Nedko Solakov, Mauro Restiffe, Renata Lucas e Rodrigo Andrade. Outros artistas que endossam a iniciativa, embora ainda não tenham obras instaladas no espaço são Dominique Gonzalez Foerster, Iran do Espirito Santo e Micol Assael.
Ainda sem ter tempo estabelecido para seu encerramento, Rejuvenesça! se propõe a ser uma mostra progressiva, agregando obras que chegarem ao seu espaço expositivo. A ideia se constrói na intenção de caracterizar um ponto de resistência tanto dos artistas que se propõem a participar quanto do próprio espaço.
A Casa do Povo se dispôs – e ainda se dispõe – a realizar uma série de inciativas em defesa do Estado de Direito, numa posição clara contra tempos funestos que parecem estar por vir, como Renata discorre em uma carta de apresentação: “O candidato mais votado no primeiro turno das eleições presidenciais incorpora um discurso fascista, cuja principal bandeira é recobrar um dos momentos mais sombrios de nossa história: a ditadura civil-militar brasileira (1964-1985)”. O candidato citado pela produtora é Jair Bolsonaro, eleito presidente da República para os próximos quatro anos.
A continuação da exposição por esse tempo ainda não determinado indica, portanto, uma forma de lutar contra propostas descabidas do, agora, presidente. Na introdução, Lucas também critica a isenção de agentes da arte em relação a esse momento: “A atual edição da Bienal de São Paulo, assim como diversas instituições e galerias de arte, procurou manter-se neutra diante da barbárie, comportando-se como se nada acontecesse à sua volta”.
Portanto, além de marcar uma posição nesta conjuntura, Rejuvenesça! também se propõe a pensar sobre os rumos da arte em um novo governo cuja base de apoio provocou os dois episódios mais desfavoráveis à manutenção da liberdade artística nos últimos anos: o boicote à exposição Queermuseum e as difamações ao artista Wagner Schwartz pela performance La Bête. Somados às declarações preocupantes do presidente eleito sobre arte e cultura, esses acontecimentos provocam grande apreensão no meio.
Afinal, é ele quem sempre pontua que artistas se aproveitam dos incentivos dados pelo governo e que disse, sobre o incêndio no Museu Nacional: “Já está feito, já pegou fogo. Quer que eu faça o quê?” Portanto, o desprezo de alguns em relação ao que a eleição desse candidato representa poderia significar uma obediência a alguns princípios repressores de seu plano de governo em relação à cultura e à arte. Renata ainda escreve, na carta-manifesto: “Em contraposição a essa cínica indiferença, nós, artistas que aqui nos apresentamos, criamos uma mostra que contou com a solidariedade da Casa do Povo, espaço democrático que entende a arte como ferramenta crítica dentro de um processo
de transformação social”.