por Tereza de Arruda, de Berlim, setembro 2018
Aartista Isabelle Borges residente em Berlim há duas décadas apresenta sua mostra individual Campos Sintéticos idealizada para a Galeria Emmathomas sob curadoria de Ricardo Resende. Este é seu retorno a São Paulo após a mostra individual Seta do Tempo (Arrow of Time) realizada em janeiro de 2013 no MUBE – Museu Brasileiro da Escultura e Ecologia, em São Paulo.
A artista mantém-se fiel à expansão da pintura por ela cultuada em intervenções espaciais, colagens e objetos oriundos de sua visão pluralizada. A pintura de Isabelle Borges exalta elementos subjetivos e orgânicos delimitados por formas, traços e contornos definidos criando uma dinâmica própria e diálogo entre obra e público através de seu caráter envolvente como em uma imagem tridimensional ou mesmo escultural.
Sua produção é norteada por tendências respaldadas na tradição artística brasileira e alemã como por exemplo o concretismo e seus infinitos desdobramentos conceituais e estéticos. O concretismo que surgiu na Europa e teve seu apogeu na década de 60 quando Max Bill lecionava na Escola de Design de Ulm atingiu o Brasil quase que simultaneamente e foi propagado por artistas locais como Lygia Clark, Amilcar de Castro, Franz Weissmann e Lygia Pape.
O concretismo é repleto de raciocínio e ciência, características visíveis também nas pinturas elaboradas por Isabelle Borges que tem cálculos de matemática como alicerce de sua obra a exemplo de um origami. Esta técnica de dobradura inclusive deixou de ser propagada por artesões nos últimos anos a fim de atender a ciência, tecnologia e indústria a exemplo da cátedra criada no MIT, renomado Instituto de Tecnologia de Massachussets, o qual difundiu esta técnica através de um programa específico de computador formalizando novo princípio de matemática criando ferramentas específicas para que o mundo possa se “desdobrar” de forma mais efetiva.
Em Campos Sintéticos o espectador é recepcionado por uma vasta intervenção espacial efêmera concebida para o espaço da galeria e ao mesmo tempo atuando como suporte das pinturas que a complementam. Aos poucos os elementos pictóricos criam autonomia e podem ser observados isoladamente. Neles traços, cores e formas se complementam e contrapõem expandindo sua área de atuação através de reflexos, sombras e planos inusitados como no conto o Jardim das Veredas de Jorge Luis Borges que a inspirou onde supostamente todos os caminhos interpretativos são provisórios e simultaneamente plurais.