AEditora Cobogó acaba de lançar Arjan Martins, publicação que apresenta mais de 100 obras do repertório do artista carioca, além de um ensaio do organizador do livro, Paulo Miyada, hoje curador do Instituto Tomie Ohtake e curador adjunto da Bienal de São Paulo, outro do crítico Michael Asbury, professor-associado da Chelsea College of Art e da University of the Arts London, e ainda uma entrevista feita com Arjan Martins pela historiadora Raquel Barreto. O volume chega às livrarias em edição bilingue.
“Tem muito material que me torna um artista, mas que não necessariamente são temas artísticos”, afirma Arjan no livro. “Às vezes está dentro da ciência política, dentro da economia, dentro da história. Enfim, acho que existe uma convergência de temas e de suportes também. O que pode me tornar um artista é um pouco o meu modo de receber essas informações e como eu as devolvo ao mundo. Entendendo que a pintura ainda é um meio, um dispositivo com o qual você pode chegar até as pessoas. A pintura remonta à história da arte, mas o seu recado é mais horizontal. Acho que é isso que me torna um artista: esse atrito, essa zona de inconformismo obsessivo construtivo.”
O trabalho de Arjan Martins já foi apresentado em diversas das instituições mais importantes do Brasil, como MAM-SP, MAM Rio, Instituto Tomie Ohtake e MAR (Museu de Arte do Rio). Nascido em 1960, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha, o artista começou a frequentar os cursos livres da Escola de Artes Visuais do Parque Lage na década de 1990. Após um período de intensa produção que dava destaque a figuras anatômicas, sua obra foi aos poucos se conduzindo para a criação de desenhos nos quais desenvolveu uma técnica pictórica que mistura espaços vazios a texturas, colorações e composições intensas. Os rostos de suas figuras negras são muitas vezes borrados, traduzindo uma negação da identidade.
No que Miyada define como “cartografias mnemônicas das histórias e do presente do povo negro”, as imagens de imigrantes e descendentes africanos são parte fundamental do repertório do artista, evocando questões como herança colonial, segregação e invisibilidade. Sua imagética trabalha os símbolos do período das expansões marítimas e da escravidão dos corpos negros, como a caravela, o globo terrestre e as ferramentas de navegação como marcas desse tempo. “A poética de Arjan Martins convida a permanecer em um estado de travessia, percorrendo o negro oceano que liga a África, a Europa e as Américas em jornadas que se cruzam com as de diversos pensadores da diáspora negra, como Frantz Fanon, Édouard Glissant, Derek Walcott, Achille Mbembe e Paul Gilroy – que, no Brasil, costumam ser lidos em diálogo com pensadores como Lélia Gonzalez, Beatriz Nascimento, Abdias Nascimento e Zózimo Bulbul”, completa o organizador.