Perseguição a artistas, assassinato de lideranças sociais, arte como forma de protesto. Os temais são os mesmos do Brasil atual, mas Jamaica, Jamaica, em cartaz no Sesc 24 de maio aponta para uma história comum na América Latina, há muitas décadas, e que tem a música como elemento agregador e contestador.

Faz todo sentido uma mostra sobre a Jamaica, no centro de São Paulo, um dos lugares mais plurais da cidade, que vive na confusão de migrantes e imigrantes de todos os cantos do planeta, que muitas vezes disputam suas canções com as pregações evangélicas.

Afinal, a música é mesmo uma das expressões culturais mais relevantes dos países latino-americanos e a Jamaica, nesse sentido, poderia ser a capital da região, pela quantidade de ritmos, a começar pelo reggae, e de ícones, tendo Bob Marley como sua figura mais marcante.

Jamaica, Jamaica, contudo, não é apenas uma mostra sobre música, mesmo que a melhor experiência dela é com os fones de ouvido _cada visitante pode plugar o seu em diversos setores do percurso, ou mesmo receber um gratuitamente.

A exposição, concebida pela Cité de la musique – Philharmonie de Paris, produzida e realizada pelo Sesc São Paulo, revela todo o entorno cultural que permitiu o surgimento de artistas como Marley, Peter Tosh, Marcus Garvey, The Skatalites e The Wailers, entre outros, e a criação de ritmos como o Ska, Soundsystem e o Dancehall.

Há muita gente que crítica o hermetismo da arte contemporânea e, muitas vezes com razão. Jamaica, Jamaica é um ótimo exemplo de como uma exposição pode falar da produção atual a partir de seu contexto, apresentando como a arte pode ser, afinal, uma estratégia para a representação da própria cultura e uma forma de transformar o cotidiano violento em um lugar de possível convivência. No momento atual, nada parece ser mais necessário.


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