A tela
A tela "As mulatas", de Di Cavalcanti, uma das obras danificadas na ação terrorista no Palácio do Planalto do domingo (8/1). Foto: Reprodução da internet

Parte significativa do acervo artístico, histórico e arquitetônico do Palácio do Planalto foi vandalizada nesse domingo (8/1) pelos ataques terroristas ocorridos na Praça dos Três Poderes, em Brasília. Segundo a Secretaria de Comunicação do Planalto, “ainda não é possível ter um levantamento minucioso” de tudo que foi destruído, mas o órgão divulgou algumas das obras danificadas que conseguiu identificar. Destacam-se, entre elas, a tela As mulatas (1962), de Di Cavalcanti, a escultura O flautista (década de 1950), de Bruno Giorgi, e uma escultura de parede de madeira de Frans Krajcberg, dos anos 1970. As três estavam no terceiro do andar do prédio.

A tela de Di Cavacalnti foi rasgada em ao menos sete pontos pelos golpistas. De acordo com o marchand Luiz Danielian, “atualmente uma obra desse porte poderia ser vendida de R$ 15 a 20 milhões”. Entre setembro e outubro do ano passado, ele organizou a exposição Di Cavalcanti – 125 anos, na Danielian Galeria, no Rio de Janeiro. Já a obra de Giorgi, feita de bronze e avaliada em R$ 250 mil, “foi encontrada completamente destruída, com pedaços espalhados pelo salão”, de acordo com a Secom. Estimada em R$ 300 mil, a escultura de Krajcberg, por sua vez, foi quebrada em diversos pontos. A obra foi feita com galhos de madeira, que foram quebrados e espalhados.

Na noite de ontem, Rogério Carvalho, diretor de Curadoria dos Palácios Presidenciais, divulgou um áudio com suas primeiras impressões a respeito dos ataques ao Palácio do Planalto (ouça abaixo). Carvalho ressaltou a contundência do vandalismo que ele presenciou, sobretudo no segundo andar do edifício, “praticamente revirado pelo avesso”. Além dos danos grandes causados à arquitetura, dos vidros, portas e revestimentos aos lambris. “Por sorte, não conseguiram acessar a sala do Presidente”, diz ele.

Carvalho também destacou a destruição de uma peça histórica, um relógio de pêndulo de Balthazar Martinot, do século 17, presente da Corte Francesa para Dom João 6º. Segundo o comunicado da Secom, Martinot era o relojoeiro de Luís 14 e existem apenas dois relógios deste autor. “O outro está exposto no Palácio de Versailles, mas possui a metade do tamanho da peça que foi completamente destruída pelos invasores do Planalto. O valor desta peça é considerado fora de padrão”.

Ainda de acordo com a Secom, no térreo, a obra Bandeira do Brasil (1995), de Jorge Eduardo, que reproduz a bandeira nacional hasteada em frente ao palácio, “foi encontrada boiando sobre a água que inundou todo o andar, após vândalos abrirem os hidrantes ali instalados”. No mesmo pavimento, a galeria dos ex-presidentes foi totalmente destruída, “com todas as fotografias retiradas da parede, jogadas ao chão e quebradas”. Já no segundo andar, o corredor que dá acesso às salas dos ministérios tem “muitos quadros rasurados ou quebrados, especialmente fotografias”.

Nas redes sociais, Margareth Menezes, ministra da Cultura, afirmou que recebeu do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a incumbência de que o MinC, junto ao Iphan, realizem “a avaliação e informação da destruição cometida nos prédios do Palácio do Planalto, Congresso Nacional, Supremo Tribunal Federal e demais espaços tombados”. Há uma reunião marcada para hoje (9/1), às 16h, entre os dois órgãos.

Há boatos, ainda não confirmados, de que a escultura A bailarina, de Victor Brecheret, que estava no prédio da Câmara dos Deputados, teria sido furtada. A obra de bronze polido de Brecheret, originalmente executada para a decoração do Jóquei Clube de São Paulo, segundo o marchand Max Perlingeiro, da Pinakotheke Cultural, vale em torno de R$ 800 mil. Ainda na Câmara, também teria sido danificado o vitral Araguaia, de Marianne Peretti, autora também dos vitrais da catedral de Brasília. Já no prédio do Supremo Tribunal Federal (STF), há rumores de destruição do busto de Ruy Barbosa, de um crucifico e da pichação da escultura A Justiça, de Alfredo Ceschiatti.

Para Rogério Carvalho, em declaração divulgada pela Secom, “o valor do que foi destruído é incalculável por conta da história que ele representa. O conjunto do acervo é a representação de todos os presidentes que representaram o povo brasileiro durante este longo período que começa com JK”.

 

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