Com exceção dos dias de abertura de exposições – com as badaladas vernissages –, galerias de arte costumam ser locais pouco frequentados. No dia a dia, em que raros visitantes adentram os espaços, certa frieza e aridez predominam no ambiente. Foi levando isso em conta, com o desejo de trazer mais vida e produtividade à sua galeria, que Andrea Rehder concebeu para este ano de 2019 o projeto Rizoma.
A ideia é simples: convidar jovens artistas para ocupar, com diferentes tipos de atividades, as duas salas do segundo piso do estabelecimento, localizado no nobre bairro do Jardim América, em São Paulo. Antes utilizadas para guardar acervo ou como áreas expositivas, as salas estão, desde meados de março, funcionando como espécies de ateliês e espaços de pesquisa para os artistas convidados. Na verdade, eles podem usar as salas “como bem entenderem”, diz Rehder, inclusive para promover conversas, debates, trocas artísticas com terceiros etc.
“Existe aqui um alto custo de aluguel da casa, num ótimo lugar da cidade, e muito pouco uso. E tem tanta gente precisando de espaço, querendo fazer e expor projetos… Por que deixar essa casa de dois andares parada?”, questiona a galerista. A ideia é que cada convidado passe um mês com uma sala disponível. Os artistas recebem a chave da galeria e podem entrar e sair a qualquer hora.
O primeiro a participar foi o goiano Helô Sanvoy, um dos poucos participantes do projeto que já é representado pela galeria. Foi ele, inclusive, que ajudou a pensar no nome Rizoma, a partir da proposta de que os artistas usem o projeto para criar raízes, diálogos e elos entre si e com a galeria. Quinze dias após Sanvoy, a pintora brasiliense Alice Lara ocupou a sala ao lado, iniciando um rodízio de datas que faz com que cada artista conviva ao menos com outros dois durante o seu mês de permanência.
Ao fim de seu período de “ocupação”, cada artista ainda ajuda na transição e entrega da sala para o próximo participante, além de realizar um open studio – com conversas e apresentação dos trabalhos. Os próximos nomes já confirmados são Sandra Lapage, Carlos Pileggi, Virgílio Neto, Betina Vaz e Ju Freire. O ciclo deve seguir ao menos até o fim do ano.
Rehder faz questão de ressaltar que não se trata de um projeto de residência artística, já que não há processos rígidos de seleção dos participantes, de curadoria ou financiamento dos trabalhos. “É uma coisa muito livre, experimental, onde os próprios artistas podem sugerir a participação de outros, podem conversar comigo sobre suas necessidades de materiais e assim por diante. Se quiserem podem também escolher vender as obras, mas o intuito do projeto não é ser algo comercial.”
Rehder destaca ainda uma preocupação de intercalar artistas de diferentes gêneros, “estimulando uma pluralidade e igualdade que por vezes eu mesma não prestei atenção durante minha trajetória de galerista”, e de incentivar um pensamento crítico sobre o que ali é produzido. Em pouco tempo de funcionamento do Rizoma, segundo ela, já surgiram jovens curadores dispostos a escrever sobre as obras dos artistas, como Isabella de Souza e Raquel Vallego.