Santídio Pereira tem 23 anos, nasceu em Curral Cumprido, bairro rural de um pequeno município piauiense de Isaías Coelho, onde passou toda sua
primeira infância. A vinda para São Paulo, não obstante, não interrompeu
sua relação com o tempo.
Sua segunda exposição na Galeria Estação, em São Paulo, Um olhar da memória, apresenta xilogravuras, técnica antiga que requer um tipo de relação diferente e mais demorada com a matéria, que sangra a madeira, e que coincide com a maneira com que Santidio enxerga seu passado. Camadas de memória aparecem na sua obra. Caburés, garrinchas, lambus, juritis, pássaros e plantas da caatinga, se misturam em tons que tornam seu trabalho menos figurativo.
Luisa Duarte, curadora da exposição, lembra em seu texto para o catálogo, que para o artista há uma clara diferença entre ver e enxergar: “O ver estaria relacionado a um olhar apressado, próprio de um ritmo contemporâneo marcado por uma atenção distraída, enquanto que o enxergar seria aquilo que suas gravuras demandam, ou seja, uma mirada capaz de se demorar em um mesmo objeto, pacientemente.”
Santidio não se contaminou com a aceleração do tempo do capital e da capital. E parece ter se mantido fiel as suas raízes, tanto do ponto de vista da sua percepção
como das suas marcas mnêmicas, como da sua memória inconsciente. Freud comentava, em cartas a Wilhelm Fliess, bem no comecinho de sua obra, que estes três fatores juntos não seriam nem mais nem menos que o necessário para criar: criar a vida como uma obra psíquica.