O Castelo de Picomtal, em Crottes, na França, ganhou as manchetes dos jornais locais e internacionais após a descoberta de um diário escrito, e escondido, debaixo do assoalho do edifício do século 19. No diário, adultérios, abusos sexuais, corrupção clerical e o assassinato de recém-nascidos são relatados como parte de um desabafo do carpinteiro que instalou o assoalho.
A descoberta aconteceu durante uma restauração iniciada em 2000. Os novos proprietários do castelo descobriram que sob o assoalho do piso superior haviam escritos de um carpinteiro chamado Joaquim Martin, de 38 anos. Entre 1880 e 1881, Joaquim dedicou algum tempo a contar, de seu ponto de vista e a partir de seus julgamentos morais, casos envolvendo moradores do vilarejo próximo ao castelo.
Joaquim Martin sabia o que estava fazendo e sabia que seria lido no futuro. Em diferentes momentos ele apontou “feliz mortal, quando você me ler, eu já não serei mais eu”. Martin reflete o tempo todo ao longo do diário sobre a vida dos seus concidadãos.
Numa das táboas do próprio assoalho (ver abaixo), ele relata o assassinato de quatro recém nascidos. As crianças eram fruto da relação extraconjugal de um amigo de infância de Joaquim. “Em 1868 passei à meia-noite pela entrada de um celeiro. Ouvi um gemido. Era a amante de um dos meus velhos amigos que estava dando à luz […] Ele agora está tentando arruinar meu casamento. Basta uma palavra e apontar para os estábulos para enviá-lo à prisão. Mas não vou fazer isso. Ele é meu amigo de infância. E sua mãe é a amante de meu pai”, escreveu. Joaquim explica, ainda, que sabe que foi o amigo quem matou os bebes para evitar ser pego em sua mentira.
Além disso, através de varias anotações, sabemos que Joaquim era republicano e tinha grande antipatia pelo clero. Casos de abusos sexuais perpetrados pelos padres locais deixavam o trabalhador indignado. Para ele, os membros do clero, como o então abade Lagier, abusavam sexualmente de mulheres durante as confissões.
Os relatos foram reunidos em um livro e muitos dos casos, como os do abade Lagier, foram apurados, revelando novas informações que permitiram ao historiador Jacques-Olivier Boudon, o autor de Le Plancher de Joachim (O Assoalho de Joachim, em português), a dar cor a vida no vilarejo.
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