Todo mês convidamos uma personalidade do universo cultural para escolher algum artista ou obra que tenha sido especialmente marcante em sua vida. Nesta edição, perguntamos para o escritor e roteirista Denilson Monteiro quem ele colocaria em seu “altar”. A escolha do autor de Dez, Nota Dez! Eu Sou Carlos Imperial, A Bossa do Lobo: Ronaldo Bôscoli, Chacrinha, a Biografia e Divino Cartola foi um gigante do cinema, que, no último dia 9*, completou um século de vida.
“Foi no dia 3 de julho de 1976 que assisti pela primeira vez a um filme estrelado por Kirk Douglas. Era um sábado, e a TV exibiu O Invencível (Champion, filme de Mark Robson, de 1949), a história de um pugilista em luta dentro e fora do ringue. Eu, um garoto de 9 anos, fiquei fascinado pelo ator dono de toda aquela fúria prestes a explodir, bem parecido com os personagens sobre os quais, muitos anos depois, eu escreveria. Após estrelar filmes como Assim Estava Escrito, A Montanha dos Sete Abutres, Ulisses e Chaga de Fogo, Issur Danielovitch Demsky, o verdadeiro nome do astro de covinha no queixo, decidiu tornar-se produtor. O trabalho mais famoso da Bryna, companhia que batizou com o nome da mãe, é Spartacus. Como seu personagem, o gladiador que desafiou a Roma escravocrata, Douglas travou suas batalhas: insistiu no jovem Stanley Kubrick como diretor; fez valer suas decisões diante do impetuoso Stanley e derrotou o macartismo ao fazer constar nos créditos do filme o nome do roteirista Dalton Trumbo, até aquele momento trabalhando na clandestinidade. Kirk foi indicado três vezes ao Oscar, obteve somente um pelos 50 anos de carreira, em 1996. Sua única frustração foi não ter interpretado R.P. McMurphy em Um Estranho no Ninho, seu papel no teatro, mas que ficou com Jack Nicholson no filme produzido por seu filho, o também ator Michael Douglas, e dirigido por Milos Forman, que o considerou além da idade para o personagem. No dia 9 de dezembro, Kirk Douglas completou 100 anos. Sua memória o trai, fazendo com que recorra a Anne, sua esposa há 62 anos, para lembrar-lhe que Sua Última Façanha (Lonely Are the Brave, outro roteiro de Trumbo) é seu filme favorito; a fala está comprometida por um AVC e a coluna ficou ruim após um acidente de helicóptero. Porém, ele jamais deixará de ser Spartacus.”
*Originalmente publicado na edição de dezembro de 2016 da revista CULTURA!Brasileiros
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