Radicado nos Estados Unidos desde 1976, o radialista Jassvan de Lima comanda há exatos 20 anos, desde setembro de 1997, o programa Som do Brasil da WKCR, emissora afiliada à Columbia University que ostenta a condição de ser uma das pioneiras nas transmissões mundiais em FM (acesse o site oficial do programa). Celeiro da radiodifusão que enaltece o legado da música clássica e do jazz, a rádio norte-americana que acolheu Jassvan é também reverente às tradições da música latina e brasileira.
De família nordestina, alagoense, com trânsito em São Paulo e Belo Horizonte, Jassvan, no entanto, foi catapultado do Brasil para Nova York via Governador Valadares, um dos mais notórios epicentros do fluxo migratório Brasil/EUA. A transição revelada por ele, no entanto, foge à regra do êxodo pragmaticamente de ascensão social que impregna o imaginário da cidade mineira.
No afã transgressor de uma juventude vivida em pleno turbilhão de 1968, Jassvan descobriu no pacato município mineiro, onde manteve com um amigo a loja de discos Blow-Up, aberta naquele ano, e um ponto de convergência entre o canto oprimido de um Geraldo Vandré e a poesia hedonista de um ícone do rock de desbunde norte-americano como Jim Morrison.
Quando tais conexões inusitadas fizeram sentido ainda maior para ele, com o entendimento da reverência dos norte-americanos pela exuberância de nossa música, Jassvan, devidamente estabelecido na pátria do líder do The Doors, conseguiu emplacar na WKCR, em 1998, ano de afirmação do interesse dos ouvintes pelo programa Som do Brasil, um especial com 13 horas de transmissão contínua em homenagem ao maestro Tom Jobim, como explica o radialista no encerramento da conversa a seguir.
Em uma matéria de 1999, li que seu primeiro programa de rádio nos Estados Unidos foi ao ar em 1971. Procede?
Não. Na verdade foi em 1976, quando tive meu primeiro programa, em Medford, Massachusetts, na WMFO 91,5 FM, uma free-form radio (rádio de formato livre, com produção comunitária) da Tufts University. A WMFO começou as transmissões em 1970, e ela é parte de uma cadeia criada em San Francisco, por meio de uma rádio que ainda existe, a Pacific Radio. A estação foi uma das criadoras desse formato, na época dos hippies, naquela onda do Grateful Dead. Quando a WMFO foi lançada só transmitia coisas feitas em San Francisco, depois é que os estudantes de universidades como a Tufts começaram a fazer programas originais em outros locais.
E como é que você recebeu o convite para colaborar com a rádio?
Meu começo na WMFO foi um negócio mágico. Meu compadre, César Augusto, estava escutando rádio em Boston e ouviu um cara falando o português de Portugal. Ele telefonou para o tal DJ, chamado José Moura, e disse: “Tenho um amigo que tem muitos discos de música brasileira. Ele foi DJ no Brasil e teve uma loja de discos”. José Moura disse que queria me conhecer e, dias depois, veio me visitar em casa. Quando mostrei minha coleção, ele disse: “Vou criar algo para você dentro da WMFO”. Ele fazia um programa para a comunidade portuguesa, que ainda é muito grande em Boston e em toda Massachusetts, e, passado um tempo, me convidou para conhecer a estação. No estúdio havia três turntables (toca-discos) e aparelhos para reproduzir fitas cassete. Naquela época, tudo era diferente e livre. Durante as transmissões, a gente tinha cerveja na mesa.
Neste mesmo dia da primeira visita ele te convidou para fazer o programa?
O telefone tocou no estúdio e ele disse: “O negócio é o seguinte, pegue esse disco e coloque aí pra tocar porque eu preciso sair agora. Tenho uma emergência em casa, me ajuda aí…”. Entrei no ar, coloquei o disco, chequei o canal 1, o canal 2, fiz uma apresentação em português – “vocês estão ouvindo a WMFO, 91,5 FM” – e coloquei o outro disco no ponto, para não deixar o negócio cair. De volta ao estúdio, José Moura trouxe também o diretor de programação da rádio e disse: “Você passou no teste!”. Ele curtiu uma comigo. Estava, na verdade, me testando. Comecei a trabalhar, primeiro, nesse programa da comunidade portuguesa fazendo 15 minutos de música brasileira e anunciando atividades para a comunidade em Boston. Começou assim, mas, dias depois, ele falou: “Bem, vamos abrir um espaço maior para você”. O sonho dele era também ter um programa de música brasileira. Ele era um professor refugiado, um intelectual de esquerda. Foi para Portugal fugindo da guerra em Angola e veio depois para os Estados Unidos, onde estudou na Tufts e em outras universidades. Foi nessa que consegui emplacar um programa de uma hora, que ia ao ar às sextas-feiras, das 19h às 20h. Como naquela época eu ainda estava loucão pela Tropicália, dei este nome ao programa na WMFO.
Você partiu de Governador Valadares, em Minas Gerais, para Boston. E, no Brasil, como se deu seu envolvimento com a música?
Vou contar um pouco antes de Valadares porque a história toda começa em São Paulo. No pós-guerra, minha família veio do Nordeste para São Paulo. Meus avós chegaram em 1946, de navio. Naquela época, havia os paus-de-arara (caminhões que cruzavam o nordeste rumo ao sudeste do País, apinhados de boias-frias e de famílias de retirantes), mas tinha também os navios pau-de-arara. A gente vinha de terceira classe. Minha mãe conta bem essa história: saíram de Maceió, passaram pela Bahia e demoraram um mês para chegar em Santos. Primeiro, vieram meus avós. Depois, vieram meu pai, minha mãe, meus tios – e fomos morar na Vila Palmeira, na Freguesia do Ó. Aos oito anos, fui para Belo Horizonte com meu pai, mas sempre passava as férias em São Paulo visitando meus tios e meu avô. Havia um primo meu do lado de minha mãe, chamado José Carlos, que era um tremendo pé-de-valsa. Eu era um ano mais novo do que ele, e então tive a sorte de, com ele, pegar São Paulo na época das big-bands e dos bailes de formatura. Com 16, 17 anos, eu ia muito à Casa de Portugal, ao Fasano. Ali, comecei a ver maestros como Simonetti (Enrico Simonetti, regente italiano que, radicado no Brasil, fez enorme sucesso), Élcio Alvarez, as grandes orquestras. Já estava alucinado com esse negócio de música, mas nunca tinha pensando em tocar – gostava de dançar, mas não era um pé de valsa como meu primo. Um tio meu, Zé, que era bem malandrão e conhecia a boemia do centro, também levava a gente para aqueles inferninhos da rua Major Sertório. Lembro de ter visto Airto Moreira e Flora Purim nessa época. Havia muitos grupos de bossa que tocavam nesses inferninhos. Tive essa sorte.
E como é que você foi parar em Valadares?
Meu pai, que era mecânico industrial, foi montar uma indústria em Valadares e acabei indo junto. Claro, não foi muito legal para mim, porque, em Belo Horizonte, eu tinha meus amigos, namoradinhas, a turma do colégio. Estudar não era muito a minha, mas eu já sabia discotecar. Eu tinha uma namorada que o pai dela era garçom de uma boate famosa, na época, chamada Estilingue. De vez em quando eu ia lá antes de abrir e conheci o disc-jóquei da casa que, naquela época, tocava em uma cabine com fita de rolo e um toca-discos. Ele tinha só um turntable e mixava com as fitas de rolo. Como ele tinha boas conexões, comprava muitos compactos de 45rpm importados, não sei porquê, ele foi com a minha cara e me deu um montão de discos. Nunca me esqueço: os dois primeiros que ganhei dele foram os compactos de Like a Rolling Stone, do Bob Dylan, e Sounds of Silence, da dupla Simon & Garfunkel. Quando cheguei em Valadares foi outra vez a música e os discos que me salvaram. Estava meio deprê, não conhecia ninguém. Quem me salvou foi a radiola. Meu pai tinha me dado uma, aquele caixotão da Standard & Electric, que tinha um daqueles turntables que você colocava uma sequência de dez discos e ia caindo um por um. Um dia, dei sorte. Andando em Valadares, num domingo à noite, ouvi uma bandinha de rock tocar. Entrei no local, pedi um hi-fi e fiquei sentado. Não tinha contato com ninguém, mas tive a coragem de falar com o guitarrista, que era o líder da banda, Jaider de Oliveira.
Como se chamava a banda?
O nome do grupo era Os Escorpiões, na área do Vale do Rio Doce, a melhor banda da época. Comecei a me encontrar com ele para, juntos, procurar repertório para a banda e passei a trabalhar com eles. Meu velho tinha um Aero Willys e comecei a carregar os equipamentos, descarregar os instrumentos. Eduardo Araújo tinha doado para eles alguns amplificadores Mustang. A banda tinha cinco integrantes. Era bem banda cover, mas a gente viajava muito, e eu vendia vários shows deles. Nessa onda, comecei a descobrir que Valadares era a conexão com os Estados Unidos. A juventude se vestia naquela onda norte-americana. Daí, falei pro Jaider: “Meu sonho é fazer uma lojinha de discos”. E nada melhor do que ser jovem e encontrar o cara certo. Ele disse: “Vou falar com meu pai”. O pai dele e o tio tinham uma lojinha no centro da cidade chamada Caçadora, uma loja que vendia armas e equipamentos de pescaria, aquele lance bem de interior, vendiam tudo dessa transação de caça e pesca. Do lado da Caçadora tinha uma portinha de dois metros de frente e cinco de fundo, que dava para um beco. Cheia de bugigangas lá dentro… O pai dele cedeu o espaço para a gente. Limpamos tudo e começamos a aplicar nossas ideias malucas. A parede estava cheia de buracos, e o Jairo pegou cascas de arroz, de uma indústria de lá, e passamos cola na parede, uma cola pesada. Jogamos com as mãos as cascas do arroz. Aquilo deu um visual muito maluco. Envernizamos as paredes e ficou incrível. Criamos também umas caixinhas de discos, o espaço era muito pequeno, mas consegui levar minha radiola Standard & Electric. Puxamos uns fios e colocamos os alto falantes na porta da frente, com o som para a rua.
E como vocês faziam para abastecer o estoque da loja?
Íamos para São Paulo, na Praça Clovis, onde havia uma distribuidora da Beverly que vendia por atacado. Gente de todo o Brasil ia lá comprar discos. Eu saia de ônibus com o cash no bolso, garotão, descia naquela rodoviária toda colorida (o extinto Terminal Rodoviário da Luz), ia até a Praça Clovis, de manhã, e escolhia os discos. Já sabia mais ou menos o que devia comprar. Alguns eram venda certa, como os do Roberto Carlos, mas outros eu levava pela capa. A loja foi aberta logo depois do festival da canção que teve o Geraldo Vandré com Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores (O Festival Internacional da Canção de 1968; Vandré ficou em segundo lugar, suplantado por Sabiá, de Chico Buarque e Tom Jobim). No dia em que o disco foi lançado eu estava na Beverly, a música estava tocando pra caramba e comprei as caixas que consegui do compacto duplo do Vandré, além de outros títulos, uns 200 discos, para poder começar o negócio. Assim que abrimos a loja colocamos nos alto falantes Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores. Por volta de 13h, com a saída dos colégios, a loja foi enchendo de jovens. Virou hit. Tinha uma arvorezinha na frente e, com a música, a rapaziada não saia dali. Foi assim que começou a Blow Up Discos. Coloquei esse nome por causa do filme do Antonioni, que, no Brasil, se chamou Depois Daquele Beijo.
Em 1968, Governador Valadares já tinha um grande fluxo de imigração para os Estados Unidos?
Em Valadares descobri que toda a rapaziada que voltava dos Estados Unidos trazia sempre muitos discos importados. Então, a gente tinha na mão uma garimpagem que, mesmo em Belo Horizonte ou em São Paulo, poucos tinham contato. Com a loja, pude fazer muitas trocas. O cara que voltava para os Estados Unidos queria levar samba ou qualquer outra coisa nacional e deixava o que trazia. Discos do The Doors, Pearls Before Swine… Conhecemos muita coisa por causa desse intercâmbio. Era o governo do John Kennedy, a migração ainda era aberta. Desde os anos 1950, muita gente foi de Valadares para lá, mas o auge se deu nos anos 1960 e no final dos anos 1970.
E a música do Vandré não causou problemas para vocês com os militares?
Sim. Não demorou muito para aparecer essa onda de a ditadura recolher discos. Como a gente estava tocando Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores e o som saia pra rua, pouco depois de abrirmos a Blow-Up chegaram PMs mandando parar o som. Tinham ido buscar os discos do Vandré. Naquela rebeldia de garotão, eu disse que não tinha mais nenhum, mas ainda havia alguns escondidos.
Também na matéria de 1999, li que você cursou Rádio e TV nos Estados Unidos.
De 1976 a 1981, fiquei em Boston fazendo o programa Tropicália na WMFO. Cheguei em Nova York em 1982, e comecei a trabalhar como DJ, à noite, tocando em discotecas e em alguns restaurantes brasileiros. Me casei pela segunda vez, tive filhos e dei um tempo do rádio. Fiz trabalhos paralelos, como locutor, para a TV Manchete, mas nessa época que parei de fazer rádio voltei a discotecar, até que vi um anúncio em um jornal latino, El Diário, de uma escola de Rádio e TV, a Dimension Broadcast School. Ficava na Times Square, uma escola simples, sediada em dois andares, e o diretor e um dos professores, Carlos Martinez-Ardilla, um peruano, era um coroa que já tinha feito uma série de programas de rádio e televisão. Fez, inclusive, os primeiros telejornais da TV latina nos EUA, na Univision. Os cursos duravam dois anos, um ano de rádio; outro de TV. E era tudo em espanhol, mas, como eu já tinha morado em Barcelona, arranhava um portunhol legal. Carlos gostou muito de mim. Minha classe tinha uns 20 alunos de diferentes regiões da América do Sul e da América Central. Fiz o primeiro curso, de Rádio, e quando foi para fazer o de TV não tinha mais grana, mas Carlos falou: “Se você não tem grana, me ajude que damos um jeito”. Trabalhei na cantina, ajudei a pintar a escola, fazia limpeza e estudava à noite. Assim, conseguir concluir minha passagem pela Dimension Broadcast School e ganhei o diploma, que me abriu muitas portas, porque, por exemplo, foi aí que eu conheci o DJ Carlos Rosário, um “new-rican”, como são chamados os porto-riquenhos criados em Nova York. Carlos, um cara sabedor de toda a onda latina, aquele lance Fania All-Stars (Jassvan faz referências aos artistas da gravadora Fania), tornou-se meu amigo e fazia um programa na WKCR chamado Caribe Latino. Nessa época, havia também um programa brasileiro chamado Street Samba. Também tinha o sonho de fazer um programa de música brasileira na WKCR e tive a sorte de o Carlos me chamar para conhecer a rádio em uma época em que o Street Samba não funcionava mais. Foi outro lance mágico. O Carlos, que tem o programa até hoje, me apresentou ao German Santana, que era o produtor do Caribe Latino. Logo avancei com a ideia de fazer um programa de música brasileira. Em 1997, a rádio abriu uma grade de duas horas às quartas-feiras, de 23h a 1h, e o German pediu para eu escrever uma proposta de programa, além de conseguir um aluno para colaborar comigo. Eu soube, então, que havia um brasileiro, garotão, o Eduardo Delgado, que estava no Departamento de Esportes, e o convidei. A proposta passou, e foi nessa que, em setembro de 1997, começamos o Som do Brasil, título sugerido por Eduardo, que ficou comigo nos quatro anos seguintes.
A circulação de estagiários é a cada quatro anos?
Sim. De quatro em quatro anos mudamos os estagiários, e o Eduardo foi o cara que deu a maior força na criação do Som do Brasil. Gosta de música, sempre incluía alguma coisa de rock brasileiro dos anos 1980, mas, desde o começo, eu é que escolho a maior parte da playlist de cada programa.
Dias atrás você me enviou o arquivo de um antigo programa com participação do Eumir Deodato. Que outros artistas participaram das transmissões do Som do Brasil?
Tive a oportunidade de entrevistar muita gente importante da música brasileira, como o Eumir. A primeira entrevista que fiz no Som do Brasil foi com o Pery Ribeiro, já em 1997. Depois, no primeiro Tom Jobim Especial que fizemos, em 1998, a Pat Phillips, produtora que até hoje agencia música brasileira no Birdland, fez uma homenagem ao Tom no Carnegie Hall, em um show que teve a direção musical do Cesar Camargo Mariano com participações de Ivan Lins, Leila Pinheiro e Al Jarreau. A maioria dos artistas brasileiros que passam por Nova York a gente procura entrevistar, além dos que vivem tocando por aqui, como Milton Nascimento, Hermeto Pascoal, Flora Purim, Gal Costa, Emílio Santiago e Toninho Horta.
Você ainda assessora a carreira do Dom Salvador?
Conheço o Salvador há mais de 30 anos. A gente se fala quase todo dia. Fiz muitas entrevistas com ele. Uma delas, inclusive, para o Jazz Profile, um tradicional programa do departamento de jazz da WKCR. Há alguns anos não trabalho mais como assessor dele. Quem está com ele é o meu parceiro de Som do Brasil, Augusto Ghiotto, um garoto de ouro. Ele é de Bauru, estudante da Columbia University. Começou a fazer o programa comigo quando estava no primeiro ano da universidade e agora já está fazendo PHD em Física; Augusto começou a produzir o programa quando fizemos uma homenagem aos 50 anos do primeiro LP do Rio 65 Trio no Carnegie Hall. É sempre uma grande honra trabalhar com o Salvador. O conheci quando o vi tocando em um show do Charlie Rouse, no Paul’s Mall, com o Portinho tocando bateria e o Guilherme Franco, que era percussionista do McCoy Tyner. Era final dos anos 1970, em Boston. Guilherme foi quem me apresentou ao Salvador e ao Portinho, nessa noite maravilhosa. O Salvador está trabalhando agora com uma nova manager no Brasil, a Margareth Reali, e brevemente vamos viajar para o Brasil, para fazer várias apresentações que ela está agenciando.
O advento das rádios online mudou muito o comportamento do público da WKCR?
Não muito. A WKCR é bem tradicional por aqui, e a gente tem um site com muito conteúdo disponível para o mundo inteiro. Acho que a internet só aumentou nossa programação e audiência. Penso que o comportamento dos ouvintes não mudou porque a WKCR foi a primeira rádio a transmitir em FM no mundo. Temos ouvintes cativos. Muita gente que ouve clássicos e jazz. Milhões de ouvintes.
Você também criou um especial em homenagem ao Tom Jobim na data de seu aniversário, 25 de janeiro. Como surgiu a ideia?
A programação dedicada ao Tom Jobim foi criada no segundo ano do Som do Brasil. Jobim é a base de tudo. João Gilberto é o papa da Bossa Nova, mas Tom é o maestro de todos. Logo que ele faleceu pensei, “pô, tenho que fazer essa homenagem entrar na programação dos birthday broadcasting” (transmissões especiais da WKCR em homenagem aos grandes autores da música popular mundial). Nos aniversários, ou logo quando um grande músico de jazz falece, eles fazem programas especiais, toda a programação do dia é transferida para essa seleção. Consegui emplacar a proposta de fazer um dia em homenagem ao Jobim e ele já entrou na agenda anual da WKCR. Tom ainda desperta a maior admiração e afeto. Está presente na vida musical aqui de fora talvez mais do que no Brasil. Qualquer lugar em que você vai e está tocando bossa nova tudo fica diferente, tudo fica elegante e bonito. É incrível. Tom foi um cara iluminado.
Para finalizar, uma pergunta polêmica. Muitos consideram eventos como o Brazilian Day não representativos da qualidade musical do Brasil, por conta das atrações elencadas. Como você enxerga isso?
Eu não participo do Brazilian Day, inclusive, já escrevi para o dono do jornal The Brazilians, para opinar sobre isso, mas parei. Toda a produção do Brazilian Day é feita pela Rede Globo. Então, eles encaixam artistas que devem ser deles (da gravadora Som Livre, da emissora) e direcionados para a audiência da Globo Internacional e dos imigrantes brasileiros que vem de comunidades como a de Boston, que sempre vem para cá no Brazilian Day, e a de Nova York. A única vez que fui ao evento fiz uma entrevista com o Carlinhos Brown e foi um papo ótimo. Depois, o vi tocando no Lincoln Center e foi um show magnífico. Achei interessante, muito bem feito, com um bom roteiro, uma transa legal.