Ao marco dos dez anos do falecimento do artista plástico, ator, diretor, escritor e dramaturgo Abdias Nascimento, o Inhotim e o IPEAFRO (Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros), instituição fundada por Abdias e que zela pelo seu legado, o homenageiam com uma ação de longa duração, o Museu de Arte Negra (MAN), aberto a partir de 4 de dezembro de 2021 até o final de 2023. Sediado dentro do próprio museu mineiro – localizado em Brumadinho – pelo período descrito, o MAN foi idealizado originalmente pelo Teatro Experimental do Negro sob a liderança de Abdias no início dos anos 1950. Ele nasceu com o objetivo de “recolher e divulgar a obra de artistas negros, sem distinção de gênero, escola ou tendência estética, promovendo-se, assim, a documentação de sua criatividade”, como explicou Abdias em entrevista para o Correio da Manhã.
A exposição será dividida em quatro atos, cada um com duração de cerca de cinco meses. O primeiro, exibido a partir de 4 de dezembro, traz o diálogo entre a obra de Abdias, Tunga e o acervo do MAN em um espaço que remete às origens do Inhotim: a Galeria Mata, situada próximo à Galeria True Rouge, uma das primeiras da instituição e que expõe de forma permanente a instalação homônima de Tunga. Seu pai, Gerardo Mello Mourão, foi um poeta que participou, na década de 1930, da Santa Hermandad Orquídea ao lado de Abdias e de outros escritores. Foi Gerardo, inclusive, que o indicou pela primeira vez ao prêmio Nobel da Paz, em 1978 – Abdias seria indicado novamente, em 2004, pela sociedade civil e autoridades brasileiras e, de forma oficial, em 2009. Assim, desde pequeno Tunga já convivia com o artista e era influenciado por sua obra.
Entre as cerca de 90 obras que serão apresentadas estão o quadro pintado por Tunga em 1967, aos 15 anos, para o acervo do MAN; Invocação Noturna ao Poeta Gerardo Mello Mourão: Oxóssi (1972), pintura que Abdias fez em homenagem ao amigo Gerardo e à memória dos poetas da Santa Hermandad Orquídea; e e a instalação Toro Condensed; Toro Expanded (1983-2012).
Sobre a idealização do Museu de Arte Negra
Desde os anos 1940, Abdias Nascimento e seus companheiros do Teatro Experimental do Negro (TEN) trabalhavam com a proposta de valorização social do negro por meio da arte e da educação. Ao delinear um novo estilo estético e dramatúrgico, o TEN lançava as bases para a fundação do Museu de Arte Negra. Foi o TEN que, em 1950, no Rio de Janeiro, organizou o 1º Congresso do Negro Brasileiro, cuja plenária aprovou uma resolução sobre a necessidade de um museu de arte negra. O projeto foi assumido pelo grupo e assim nasceu o MAN.
“Naquela altura, a representação do negro nos museus tradicionais aparecia em segundo plano e, em sua maioria, mediada pelo olhar do branco. Assim, era preciso romper com esse sistema representacional e tornar visível ao mundo a riqueza da cultura negra para o campo da arte”, explica Deri Andrade, curador assistente do Inhotim e pesquisador do Projeto Afro.
A exposição inaugural da coleção Museu de Arte Negra foi realizada em 6 de maio de 1968, no Museu da Imagem e do Som, no Rio de Janeiro. Após a abertura, Abdias ganhou uma bolsa de intercâmbio cultural para os Estados Unidos. Com a promulgação do Ato Institucional 5, em dezembro de 1968, na fase mais dura da ditadura civil-militar, Abdias se viu impedido de retornar ao país.
“Esse infortúnio foi um obstáculo para o retorno de Abdias ao Brasil. Limitou as atividades do Museu de Arte Negra, mas não as do artista, que continuou produzindo e coletando obras durante o seu exílio”, comenta Elisa Larkin Nascimento, viúva de Abdias Nascimento e co-fundadora do IPEAFRO. “Assim, atualmente uma profusão de artistas nacionais e internacionais integram o acervo do MAN-IPEAFRO, contribuindo para o enriquecimento das narrativas curatoriais sobre a produção artística negra”, acrescenta.
Funcionamento
O Inhotim está funcionando de quinta-feira a domingo e em feriados, com capacidade para mil visitantes por dia. A entrada é gratuita em toda última sexta-feira do mês, exceto em feriados, com o mesmo limite de público. A compra e retirada de ingresso é realizada exclusivamente online e com antecedência pela Sympla. Em função dos protocolos de saúde, vale lembrar que não está sendo feita operação de venda de entradas na bilheteria do museu.
O uso obrigatório de máscara, por funcionários e visitantes, displays de álcool em gel distribuídos pelo parque e distanciamento entre as mesas nos pontos de alimentação seguem em vigência.
Todas as orientações sobre compra de ingressos, os protocolos adotados e regras de visitação estão disponíveis no site da instituição.