No dia 24 de setembro, o auditório Dom Paulo Evaristo Arns, na PUC-SP, recebeu o debate em torno da reedição do livro “Walter Benjamin: os cacos da história”, de Jeanne Marie Gagnebin. Promovido pela Universidade junto ao programa de Pós-Graduação e o Instituto Internacional de Estudos Contemporâneos, Jeanne Marie convidou Carla Milani Damião e Marc Beret para somar à conversa, cujas análises atualizam os escritos de 1982 para os dias atuais.
“O livro é antigo, para não dizer clássico”,
brincou Gagnebin, arrancando risos dos presentes. A autora conta que a capa da reedição do exemplar da Editora N-1, foi baseada na homenagem prestada à Benjamin pelo artista israelense, Dani Karavan. “O artista fez uma escultura de ferro, como se fosse um túnel escuro no qual pouco a pouco, se enxerga o mar e a luz no fim do túnel. A gente precisa dela”, menciona em referência à atual situação política brasileira.
Walter Benjamin escrevia para si mesmo
Jeanne Marie critica o academicismo, que conduz a escrita filosófica pelas publicações, e enfatiza a escrita enquanto autorreflexão e análise histórica, como fazia Benjamin. “Quando penso na República de Weimar e em nossa situação hoje, me assusto com a República do Brasil. E também com esse fascismo cotidiano e a demanda por autoridade. Muito estranho e cruel é que me parecia haver em 1982, um período ditatorial, mais esperança no ar do que há hoje”, comenta.
O título dado ao livro coloca os cacos como a resistência ainda necessária em 2018. “Eles são as coisas que se quebram e tendemos a pôr no lixo ou que não sabemos para que servem. Hoje os cacos nos dão uma dica para ficarmos atentos àquilo que é pequeno e por enquanto não tem serventia alguma, que pensamos não valer a pena guardar mas talvez sejam pequenos cacos de resistência”, analisa Jeanne Marie.
Beret aponta a amizade entre Benjamin e Bertolt Brecht como um símbolo de aliança contra as forças reacionárias do fascismo que se via àquele momento, com duas estratégias filosóficas, e elogia o trabalho de Jeanne Marie em restituir a obra de Benjamin sem perder a relevância do trabalho filosófico.
A professora na Faculdade de Filosofia da Universidade Federal de Goiás (FAFIL-UFG), Carla Milani Damião, trouxe o exemplo da história da Independência Baiana para falar do efeito salvador da destruição, apontado em verbete de Dag T. Andersson sobre o conceito Benjaminiano. “O aspecto salvador da destruição é a marca da memória, e a memória pode ter a marca brutal da intervenção destrutiva dirigida contra o esquecimento da tradição. A história, diz Benjamin, não é apenas uma ciência, mas uma forma de memória. A memória dá ao passado um espaço no qual este não está exposto ao progresso, o progresso é o desastre como a tempestade anunciada. Sofrimentos passados e opressão não serão esquecidos em nome do futuro”.
Damião analisou as ideias de Benjamin repercutem com clareza no exemplo no sentido de que o gesto destruidor alegórico se caracteriza como um grito político e nos desdobramentos criativos de um grupo. E finaliza “Hashtag Ele Não”.