Por pouco mais de um ano, negociantes de arte, galeristas e colecionadores incapazes de viajar pelo circuito de feiras de arte ocuparam os espaços de exibição online que Art Basel, Frieze e outras feiras disponibilizaram. Para aquelas que não migraram – mesmo que temporariamente – para o formato digital integral, o modelo híbrido de negócios entre o ambiente da web e o presencial pareceu uma boa saída, uma que talvez se solidifique e permaneça até mesmo depois da quarentena. Esta é a opinião de Iwan Wirth, um dos fundadores da mega galeria Hauser & Wirth.
Contra a maior desvantagem sendo a falta da experiência presencial, podem ser listados alguns pontos positivos citados pelos galeristas nos OVRs (Online Viewing Rooms). “Nas feiras, o preço do estande, as viagens, hospedagens, o transporte de obras e os seguros, tudo é um orçamento muito alto. E mesmo as exposições virtuais da galeria foram mais baratas de fazer. O que aconteceu, no final do ano, é que a gente conseguiu manter o faturamento, mas a despesa caiu”, afirma Alexandre Roesler, da galeria Nara Roesler, em reportagem publicada na edição #53 de arte!brasileiros. Já a transparência de preços nos OVRs é o grande atrativo para colecionadores.
O colecionador francês François Blanc lamenta a questão da sociabilidade, que ajuda a distanciar as feiras bem sucedidas das que fracassam, em sua opinião. No entanto, Blanc explica que esta é a oportunidade das galerias para retomar o controle de seu mercado: “Interagir com colecionadores, entender suas expectativas, identificar artistas e promovê-los”. “As mega feiras não estão mais em posição de impor seu plano comercial no período de dinheiro escasso e transporte limitado que estamos enfrentando. O mercado tem a oportunidade de voltar ao nível do que é realmente necessário em termos de criação artística”, relata à Forbes.
Em um editorial opinativo para o portal Artnet, Jonathan Schwartz vai ao encontro da fala de Blanc e pontua: “Eu dirijo o Atelier 4, um complexo negócio de logística de belas artes que, de repente, em março do ano passado, se tornou basicamente uma empresa de armazenamento”. Aos poucos o Atelier 4 foi revivendo seus departamentos e foi encontrando trabalho com galerias e casas de leilão que haviam mudado para plataformas online. “Começamos a trabalhar em colaboração direta com nossos clientes – que estavam olhando para as paredes em suas casas e desejando algo novo para pendurar; indivíduos com patrimônio alto estão ficando em casa e comprando arte“. Indo ao encontro da fala de Schwartz, Roesler explica que “este novo modo de vida criou uma outra relação com o próprio espaço da casa, uma convivência intensa que fez com que muitas pessoas começassem a pensar em mudar as coisas“. Ele afirma inclusive que alguns de seus clientes decidiram morar períodos em suas segundas casas (fora da cidade) e passaram a adquirir obras para estes locais.
“No final do ano, parecia que poderíamos gerenciar esse desastre sem uma única feira de arte – e conseguimos”, conta Schwartz, por fim, e propõe uma importante questão em relação às feiras: “Já chegamos até aqui sem feiras. Por que arriscar nossa saúde agora quando há luz no fim do túnel? Quanto mais tempo ficarmos em nossos cantos, mais rápido chegaremos à linha de chegada”.
Mudanças de agenda nas feiras internacionais
O perigo das viagens internacionais e a – ainda presente – ameaça do vírus não são desconsiderados pelas organizações das feiras, no entanto. Um dos fenômenos possíveis e resultantes disso é sua fragmentação em eventos menores e locais, em vez de fazer com que todos se aglomerem em um centro de convenções. A Frieze New York, por exemplo, reduziu sua lista de expositores em dois terços para a edição de 2021, sendo que a feira acontecerá no espaço de artes The Shed, em Hudson Yards, em maio. “Nova York é uma das poucas cidades onde você pode realizar uma feira para 60 galerias internacionais sem ter que contar com uma grande participação internacional”, Victoria Siddall, a diretora da Frieze, disse ao New York Times. “É uma feira muito menor, mas parecia certa para o primeiro semestre do ano”. A Art Basel Hong Kong aderiu à alternativa de um planejamento com foco local e manteve sua ocorrência presencial para o final de maio, nos dias 21 a 23.
Já a Art Basel na Suíça – considerada a feira mais importante do circuito moderno e contemporâneo – adiou novamente sua 51ª edição, de junho para setembro (dias 23 a 26). “A decisão foi tomada partindo do pressuposto de que as pessoas em risco e os profissionais de saúde serão vacinados no início do verão, então o bloqueio e as restrições de viagens devem ser amenizados, com um pouco de proteção”, disse Marc Spiegler, diretor das feiras Art Basel. Liste, a feira conterrânea para arte emergente, foi movida para se juntar ao evento principal da cidade.
Por enquanto, a Tefaf Maastricht não planeja uma alternativa online e segue o movimento de Art Basel ao mudar sua 34ª edição para 11 a 19 de setembro, já tendo alterado anteriormente seu itinerário usual, de março para o final de maio. Segundo o presidente Hidde van Seggelen, setembro parece ser mais confiável para o comunidade frequentadora da feira. Se juntando ao mês de setembro está também a Photo London, que agora será exibida na Somerset House a partir do 9.
Como as mídias sociais se comportaram nesse cenário?
De acordo com uma pesquisa com 1.758 entrevistados em todo o mundo, conduzida pela empresa de mercado online Artsy, a mídia social ultrapassou as feiras de arte em um ranking dos principais canais de vendas para galerias em 2020. Enquanto em 2019, 16% das galerias pesquisadas disseram que sua principal fonte de vendas eram as feiras de arte (depois do contato direto com clientes e visitas pessoais às galerias), em 2020 isso havia caído para apenas 5%. Considerando o ano passado, o alcance aos clientes ainda ocupa o primeiro lugar (28%), seguido pelas vendas através do próprio site da galeria (de 10% para 17%, de 2019 para 2020). Dustyn Kim, CRO da Artsy, observa que uma grande parte dessas galerias não tinha presença online significativa e que neste período houve uma correlação direta entre fazer vendas e tornar os preços disponíveis ao público.
Calendário de feiras
Art Paris Art Fair: 8 a 11 de abril.
Expo Chicago: 8 a 11 de abril.
Art Beijing Art Fair: 30 de abril a 3 de maio.
Frieze New York: 7 a 9 de maio.
Art Basel Hong Kong: 21 a 23 de maio.
SP Arte: 16 a 20 de junho.
Masterpiece Art Fair: 24 a 29 de junho.
ARCO Madrid: 7 a 11 de julho.
SP Arte Foto: 25 a 29 de agosto.
ArtRio: 8 a 12 de setembro.
The Armory Show: 9 a 12 de setembro.
Photo London: 9 a 12 de setembro.
Tefaf Maastricht: 11 a 19 de setembro.
Liste Art Fair: 20 a 21 de setembro.
Art Basel: 23 a 26 de setembro.
Frieze London: 13 a 17 de outubro.
Frieze Masters: 13 a 17 de outubro.
Art Taipei: 22 a 25 de outubro.
Paris Photo: 11 a 14 de novembro.
Art Miami: 30 de novembro a 5 de dezembro.
Art Basel Miami: 2 a 5 de dezembro.