Confira os títulos destacados pela antiga CULTURA!Brasileiros, originalmente publicados em 2017 na série Imperdíveis.
Série Imperdíveis: livros para ler agora
O Progresso do Amor
Alice Munro, Tradução de Pedro Sette-Câmara. Biblioteca Azul, 384 páginas
Sexta coleção de contos da autora canadense. A história que dá título ao livro, lançado originalmente em 1986, reflete uma experiência autobiográfica. Trata de uma mulher divorciada que volta para a casa dos pais no interior e tem de lidar com a memória conturbada da infância.
TRECHO
“Eles não falavam por mal. Não tinham faro para perceber que alguma coisa devia estar errada. Marietta, porém, nunca conseguiu aguentar homens rindo. Havia sempre lugares pelos quais ela detestava passar, e ainda mais entrar neles, e era esse o motivo. Homens rindo.”
A AUTORA
Vencedora do Nobel de Literatura em 2013, Munro (1931) é tida como a “Tchekhov do Canadá”. Também ganhou o Man Booker Prize de 2009 e três vezes o Governor General’s Award.
De Tudo um Pouco
Ana Luisa Escorel. Ouro Sobre Azul, 220 páginas
Com edição bem cuidada, em capa dura e permeada de ilustrações, este pequeno livro traz textos escritos nos últimos 15 anos – de lembranças familiares, comentários literários e outros -, que estavam na gaveta ou que alimentaram o ótimo blog de mesmo nome.
TRECHO
“O Diabo andava muito desmotivado imerso num vermelho eterno, num excesso monocromático que não estimulava em nada as inquietações mentais dele. O tempo todo tudo igual, nenhum pontinho à volta que não fosse vermelho sangue,
vermelho escuro” (O Fastio do Diabo)
A AUTORA
Também designer e fundadora da editora Ouro Sobre Azul, Escorel (1944) venceu o Prêmio São Paulo de Literatura na categoria romance, com Anel de Vidro, em 2014.
Jaqueta Branca ou o Mundo em um Navio de Guerra
Herman Melville. Tradução de Rogério Bettoni. Carambaia, 464 páginas
Até agora inédito no Brasil, o romance se baseia numa das viagens marítimas de Melville, então um marinheiro de 24 anos. Em 1843 ele partiu de Honolulu numa fragata da marinha americana e passou pelo Rio de Janeiro, onde conheceu Dom Pedro II. A bela edição traz um glossário.
TRECHO
“Em contraste com a luminosidade desses barões do Brasil, como empalideceram os cordões dourados dos barões da nossa fragata! E comparados com os longos floretes dos marqueses, os punhais de nossos cadetes de famílias nobres pareciam pregos dourados presos na cintura.”
O AUTOR
Melville (1919-1891) é o autor de Moby Dick, lançado em 1850, e Bartleby, o Escrevente, publicado originalmente na coletânea The Piazza Tales, em 1856.
Machado
Silviano Santiago. Companhia das Letras, 422 páginas
Misto de romance, ensaio e biografia, centra-se nos últimos dias de Machado de Assis. Viúvo, o autor de Dom Casmurro testemunha a modernização do Rio de Janeiro ao mesmo tempo que tem de lidar com a própria decadência, intensificada por fortes crises de epilepsia.
TRECHO
“Poucas vezes fala a amigos da solidão angustiante por que passa e jamais exige a adesão sentimental dos escritores que lhe são próximos. Continua homem educado, operoso, fino e aflito. Aflitivo para alguns, já que o rosto se tornou ultrassensível às náuseas súbitas (…)”
O AUTOR
No romance Em Liberdade, Santiago também trata de um escritor brasileiro: Graciliano Ramos; e em Viagem ao México, escreve sobre Antonin Artaud.
O Ruído do Tempo
Julian Barnes. Tradução de Léa Viveiros de Castro. Rocco, 176 páginas
Celebrado pelo regime soviético na mesma medida em que foi perseguido, o compositor Shostakovich, um dos maiores do século XX, recebe aqui fino tratamento ficcional. Barnes, porém, não deixou de lado registros históricos como a própria autobiografia do angustiado músico russo.
TRECHO
“À medida que o avião parecia alcançar camadas sólidas de ar, ele tentava se concentrar no medo imediato: de imolação, de desintegração, esquecimento instantâneo. O medo faz surgir outras emoções também; mas não a vergonha. Medo e vergonha se reviravam juntos em seu estômago.”
O AUTOR
Um dos grandes autores ingleses, Barnes é conhecido por O Papagaio de Flaubert e O Sentido de um Fim, que lhe rendeu o Man Booker Prize em 2011.
Walter Benjamin – uma Biografia
Bernd Witte. Tradução de Romero Freitas. Autêntica, 160 páginas
Registro breve da história do pensador alemão (1892-1940). O estilo é fluente, mas há densidade. O autor narra os fatos cronológicos: carreira, amigos, amantes, sem perder de vista a dimensão filosófica de Benjamin, além de tratar com delicadeza o aspecto trágico de sua vida.
TRECHO
“Nessa situação precária, sua viagem a Moscou (…) para visitar Asja Lacis, é como se fosse uma fuga para frente. Mais uma vez (…) a nostalgia pela mulher amada que o havia aproximado ao marxismo como força política viva produziu uma ruptura.”
O AUTOR
Presidente da Sociedade Internacional Walter Benjamin e professor de Teoria Literária, Witte publicou diversos livros sobre autores alemães e judeus dos séculos XVIII e XX.
A Cura pelo Espírito
Stefan Zweig. Tradução de Kristina Michahelles. Zahar, 360 páginas
No perfis biográficos de Franz Mesmer, estudioso do hipnotismo, de Mary Baker Eddy, fundadora da seita ciência cristã, e principalmente de Freud, Zweig buscou demonstrar a importância da busca de si mesmo. A edição traz a inédita correspondência entre o autor e o pai da psicanálise.
TRECHO
“A medida mais segura de toda força é a resistência que ela consegue vencer. Assim, a façanha de demolição e reconstrução empreendida por Sigmund Freud só se revela plenamente se contraposta ao modo como se via (…) o universo dos impulsos humanos antes da Guerra”.
O AUTOR
Há 75 anos Zweig se matava em Petrópolis. Sua obra vem sendo sistematicamente reeditada, o que inclui Autobiografia: o Mundo de Ontem e Novelas Insólitas.
Caminhos Divergentes
Judith Butler. Tradução de Rogério Bettoni. Boitempo, 240 páginas
Ensaio em que a autora busca fazer uma crítica ao sionismo político e à violência do Estado israelense por meio da própria tradição intelectual judaica. Verdadeiro impulso ético, suas fontes estão no pensamento de Walter Benjamin, Hannah Arendt, Emmanuel Lévinas e Primo Levi.
TRECHO
“(…) alguns aspectos da ética judaica exigem que nos distanciemos de uma preocupação voltada apenas para a vulnerabilidade e o destino do povo judeu. (…) é uma resposta às reivindicações de alteridade e cria base para uma ética na dispersão.”
A AUTORA
Referência nos estudos queer, Butler (1956) tem diversos livros publicados no Brasil, como Problemas de Gênero, Relatar a Si Mesmo, Quadros de Guerra e O Clamor de Antígona.