Maria Mercedes Féa tinha apenas 20 anos, cabelos cortados à la garçonne e viajava da Itália para a Argentina, quando conheceu Giuseppe Pistone, italiano como ela, a bordo do navio Conte Biancamano. Três anos depois, em outubro de 1928, o corpo de Maria Féa foi embarcado em um baú, no Porto de Santos, para fazer o percurso de volta no vapor Massila.
Junto com o corpo, estavam objetos pessoais da garota italiana, como almofadas, roupas e maquiagem. Só foram descobertos porque a corda que içava a bagagem para o navio se rompeu. Com a queda, o baú se abriu. O comandante do Massila logo constatou que a etiqueta da mala registrava um nome que não constava da lista de passageiro – Ferrero, Francesco.
O crime deixou o País em polvorosa. Afinal, 20 anos antes, uma outra mala havia estarrecido os passageiros de um navio que zarpara para a Europa, com escala no Rio. Na ocasião, o sírio Michel Trad fora flagrado arrastando a mala para a amurada, com a intenção de jogá-la ao mar. Nela estava o corpo do comerciante Elias Farhat, para quem Trad trabalhava.
No caso da garota italiana, que só tarde seria identificada, existia ainda um agravante: Maria Féa estava grávida. Para chegar a ela, a polícia montou um quebra-cabeças que começava com a descrição do homem que entregara a mala aos carregadores, passava pelo vagão de primeira classe de um trem que partia de São Paulo e chegou até a um motorista de praça.
Depois de ver a fotografia do baú estampada nos jornais, o motorista Vicente Caruso procurou a polícia. Contou que retirara a bagagem do terceiro andar de um prédio do centro da cidade, para levar, junto com o passageiro, até a estação de trem. Tinha prestado atenção, pois achara muito pesada para conter apenas roupas, como enfatizara o passageiro.
Naquela altura, o passageiro tinha se mudado do prédio. Na São Paulo repleta de imigrantes saídos da Europa devastada pela guerra, a polícia acionou a comunidade italiana. Não demorou a encontrar o homem que havia despachado a mala de forma clandestina: Giuseppe Pistone, o italiano que Maria Féa conhecera na viagem de vinda e com quem se casara.
O sujeito tentou emplacar a versão de que sufocara a mulher em momento de desatino, depois de surpreendê-la com um amante. Na verdade, Pistone era um golpista, que depois de saques ao cofre da mãe na Itália, preparava novos botes nesta parte do mundo. Maria Féa estava prestes a denunciá-lo. Mesmo sem empurrar a mala ele próprio, o golpista foi desmascarado.