Um dia, enquanto finalizava uma obra para a exposição vigente, Sônia Gomes percebeu que o corte feito na madeira que utilizava não deixava que a peça ficasse em pé. Ela levantou de onde estava sentada para observar melhor e pensou: “Ainda assim me levanto”. Não soube explicar de onde veio aquele sussurro em sua cabeça, mas não conseguiu parar de pensar nisso.
A artista, aliás, que seria um ótimo nome para aquela obra e, no fim, para a exposição, que está em cartaz no MASP e na Casa de Vidro, ambas as construções planejadas por Lina Bo Bardi, até março de 2019. A obra em questão se chamou, então Eu me levanto.
Em uma breve pesquisa na internet, depois descobriu que a frase era, na verdade, um verso de um poema da autora e ativista americana Maya Angelou. Teria algo de ancestralidade comum nessa reminiscência? Sônia acredita que sim, talvez. Esse acaso a encontra da mesma forma que quando ela se descobriu artista: “Não teve um momento que eu falei ‘agora eu vou ser artista’, não. Isso chegou para mim”, comenta.
A exposição Ainda assim me levanto é a primeira que faz parte de uma parceria entre as duas instituições. O projeto consiste em sediar uma mostra simultaneamente nos dois locais, uma vez por ano. É também a primeira curadoria, no MASP, de Amanda Carneiro, que atua como supervisora da Medição e programas públicos.
Ainda assim me levanto traz uma nova fase de Sônia Gomes, usando, desta vez, pedaços de troncos encontrados na beirada ou no fundo de rios do interior de Minas Gerais, seu estado de origem. Neles, Sônia faz seu trabalho com tecidos, manuseando-os das mais variadas maneiras, fluindo com seu trabalho habitual em um outro rumo.
A artista não se considera uma artista militante, mas não abdica de si como um corpo político, apesar de não levar isso ao seu trabalho de forma eminente. Já foi chamada de artista naïf, artista popular e também de artesã. Ela dispensa os rótulos: “Isso acontece porque eu sou negra, se eu fosse branca eles não estariam preocupados em me colocar nesse lugar”.