No Instituto Moreira Salles de São Paulo, duas exposições dedicadas a importantes fotógrafos estrangeiros: a italiana Letizia Battaglia (1935) e o chileno Sergio Larrain (1931-2012).
A mostra Letizia Battaglia: Palermo reúne cerca de 90 imagens, publicações e filmes, com foco especial na atuação da fotógrafa no jornal L´Ora. Ela começou seu trabalho como fotógrafa, em 1971, em Milão, ao mesmo tempo em que escrevia, como freelancer, para várias publicações, como o Le Ore, um jornal sensacionalista e o ABC, uma publicação intelectual. Foi convidada pelo L’Ora para voltar para Palermo, onde havia nascido, e foi lá, durante quatro décadas, que documentou a guerra da máfia, especialmente nos anos 1970 e 1980. Isso sem ignorar o cotidiano da cidade e seus habitantes.
Nas palavras da fotógrafa, “com a máquina fotográfica a tiracolo, me tornei testemunha de todo o mal que estava ocorrendo. Foram anos de guerra civil: sicilianos contra sicilianos. Foram assassinados os melhores juízes, os jornalistas mais corajosos, os políticos avessos à corrupção”. Com curadoria de Paolo Falcone, a exposição já passou por Palermo, Roma e pelo IMS do Rio antes de chegar a São Paulo.
A mostra Sergio Larrain: um retângulo na mão, por sua vez, traça um panorama da obra do chileno, que atuou como correspondente da agência Magnum durante a década de 1960. A exposição apresenta mais de 140 fotografias, um vídeo e publicações, contemplando os períodos de produção de Larrain em Santiago, o trabalho como correspondente na Europa e América do Sul e a sua volta à terra natal. Com curadoria de Agnès Sire, a mostra já passou por Arles, na França, por diversas cidades chilenas, por Buenos Aires e pelo IMS do Rio.
Nesta versão que está no IMS, foi acrescentado o trabalho que Larrain fez, na segunda metade da década de 1950, para a revista brasileira Cruzeiro Internacional, de Assis Chateaubriand. Dono da revista Cruzeiro — publicação de sucesso e responsável pela implantação do fotojornalismo por aqui com fotógrafos como José Medeiros, Pierre Verger, Luiz Carlos Barreto, Marcel Gautherot —, Chateaubriand ao lançar sua versão internacional queria concorrer com americana Life e com a francesa Paris Match.
Fotos: Sergio Larrain/Magnum Photo
A revista foi lançada em 1957, Larrain produziu para ela pouco mais de uma dezena de reportagens entre 1957 e 1959. Foi, então, convidado por Cartier-Bresson para trabalhar na Magnum, em Paris. A Cruzeiro Internacional acabou fechando em 1965 por falta de anunciantes.
Na França, Sergio Larrain, que era amigo de Julio Cortázar, um dia revelando os filmes que tinha feito pelas ruas de Paris viu, ao fundo em uma foto, um casal. Ampliou o negativo e viu que o casal fazia amor, encostado em um muro. Encontrou-se, mais tarde, com o escritor argentino e mostrou-lhe a ampliação. A foto serviu como inspiração para o conto Las babas del diablo, um dos cinco publicados em 1959 no livro Las armas secretas. O conto, por sua vez, inspirou o diretor italiano Michelangelo Antonioni que fez o hoje clássico e inspirador Blow-Up.
Nas palavras de Sire, a curadora da mostra, que trabalhou na Magnum desde 1982 e é diretora e uma das fundadoras da Fundação Cartier-Bresson, “para Larrain a fotografia era poesia, não era de modo algum uma questão documental.”
Em uma carta que escreveu a um sobrinho em 1982, Sergio Larrain disse: “Siga o seu gosto e mais nada, acredite apenas no seu gosto… Quando tiver algumas fotos realmente boas, amplie e faça uma pequena exposição — ou um livrinho. Mande encadernar. E, com isso, vá firmando um chão. Ao mostrá-las, você se dá conta do que são, ao vê-las diante dos outros — é aí que você as sente. Fazer uma exposição é dar algo, é como dar de comer, é bom para os outros mostrar-lhes algo feito com trabalho e gosto. Não é se exibir, faça bem feito é saudável para todos”.
Letizia Battaglia: Palermo
Até 22 de setembro
Sergio Larrain: um retângulo na mão
Até 25 de agosto
Instituto Moreira Salles – av. Paulista, 2424
Entrada gratuita