O Instituto Inhotim, em Minas Gerais, anunciou que seu fundador, o colecionador de arte e ex-magnata da mineração Bernardo Paz, vai transferir cerca de 330 obras de sua coleção para a instituição privada. O parque de esculturas e jardim botânico, que se estende por mais de 5.000 acres, foi fundado por Paz como um centro sem fins lucrativos em 2006, e já contém uma coleção que abrange mais de 1.000 obras. Em 2008, foi reconhecido como organização da sociedade civil de interesse público (Oscip) pelo governo mineiro. O Inhotim compreende 23 galerias, incluindo quatro galerias rotativas, e 19 grandes instalações permanentes de Cildo Meireles, Rivane Neuenschwander, Hélio Oiticica, Lygia Pape, William Kentridge, Tunga e outros, que foram incluídas na doação.
“A coleção foi doada e incorporada ao acervo do Instituto. A partir dessa nova governança foi criado um comitê consultivo com membros do Conselho, da Direção Artística e o Allan Schwartzman para opinar sobre a incorporação de obras ao acervo e mobilizar recursos para novas doações, mantendo o Inhotim com um colecionismo ativo fundamental à sua tipologia de museu de arte contemporânea”, afirma Lucas Pessôa, diretor presidente do instituto. Deste conselho, Bernardo Paz será o presidente e o empresário mineiro Eugênio Mattar o vice. Fazem parte dele outras 18 pessoas, entre executivos de diversos setores e agentes culturais.
O grupo ainda será ampliado com mais 10 integrantes, responsáveis por deliberações administrativas e financeiras do Inhotim, mas não terá papel decisório na programação cultural do museu. “A intenção é que esse comitê possa desenvolver no futuro uma política de aquisições que organize esse processo a partir de eixos programáticos, observando eventuais lacunas na coleção, e incorporando trabalhos que possibilitem a ampliação das visadas críticas com o acervo existente”, complementa Pessôa.
Já a diretora artística Julieta González coloca que: “No caso das inaugurações atuais, trabalhamos muito para dar uma forma mais específica ao projeto de Abdias Nascimento e convertê-lo no eixo norteador do programa até o final de 2023, quando finaliza esta parceria com IPEAFRO, que realmente inaugura uma virada epistêmica no pensamento, programa e coleção do Inhotim, e uma relação mais permanente e estável com diversas comunidades, entre elas, a Afro-brasileira”.
No dia 28 de maio foram inauguradas no Inhotim novas obras e exposições temporárias, incluindo Isaac Julien, importante nome nos campos da instalação e do cinema, convidado a expor um de seus trabalhos mais emblemáticos na Galeria Praça. Já o Acervo em Movimento, programa criado para compartilhar com o público as obras recém-integradas à coleção, inaugurou a nova temporada com trabalhos dos artistas brasileiros Arjan Martins e Laura Belém, ambos instalados em áreas externas do Instituto. Jaime Lauriano também integrou a lista dos artistas participantes da programação, abrindo o projeto Inhotim Biblioteca e mantendo relação direta com o Segundo Ato do projeto Abdias Nascimento e o Museu de Arte Negra (MAN), ao propor a curadoria de uma nova bibliografia que contempla autores negros para integrar o acervo da biblioteca do Inhotim. Por último, o Segundo Ato do MAN ocupa a Galeria da Mata e é realizado em curadoria conjunta entre Inhotim e IPEAFRO para abordar o Teatro Experimental do Negro, movimento encabeçado por Abdias Nascimento, e que está nas origens do Museu de Arte Negra.
As inaugurações são parte do Território Específico, eixo de pesquisa que norteia a programação do Instituto no biênio de 2021 e 2022 (saiba mais aqui).
As novidades marcam uma nova trajetória esperada do Inhotim que passou por períodos de instabilidade há cinco anos quando problemas judiciais da Itaminas, conglomerado formado por 29 empresas da qual Paz foi dono até ser vendida em 2010. Em 2021, a Itaminas assinou acordo com a Procuradoria-geral da Fazenda Nacional em torno de seu passivo tributário, cerca de R$ 1,6 bilhão. A União pediu o empenho de todos os imóveis do grupo, incluindo Inhotim. O museu acabou ficando livre da penhora, embora um acordo anterior incluísse 20 obras do museu como pagamento da dívida. Em 2020, o mesmo acordo foi tido como ilegal na Primeira Vara de Feitos Tributários do Tribunal de Justiça de Minas Gerais.