Neste sábado, a galeria Nonada ZN abre coletiva, na Penha, Rio de Janeiro, com o título fragmento I: vento pórtico, reunindo trabalhos dos artistas Iah Bahia, Loren Minzú, Siwaju Lima, sob curadoria de Clarissa Diniz. Ao todo, serão exibidos cerca de 32 obras, um conjunto de esculturas, instalações, gravuras, vídeos e objetos, parte dele inédita. Como o título sugere, a mostra faz parte de um projeto da curadora, dividido em duas etapas.
Segundo Clarissa, o critério para a seleção de Iah, Loren e Siwaju partiu da vontade de imaginar “como suas poéticas já se cruzavam, como já tinham algum interlocução, e entender que esse diálogo poderia ser aprofundado com a oportunidade desta vivência num ateliê coletivo”, diz, à arte!brasileiros.
“O desejo de reuni-los veio mais do interesse em vê-los trabalhando juntos, criando juntos, compartilhando seus processos. Essa exposição é atualmente uma ocupação dessa antiga fábrica [da marca de lingerie Marilan, onde hoje está instalada a Nonada ZN], mas não começa como uma mostra, e sim uma espécie de ateliê coletivo, para um processo de criação experimental, com os materiais disponíveis aqui no prédio e compartilhado pelos artistas”.
Os encontros começaram em março, quando Clarissa articulou, com os artistas, atividades criativas diversas, para que desenvolvessem seus projetos e explorassem suas poéticas, “realizando investigações site specific e partilhando seus saberes e desejos num processo coletivo de criação, crítica e interlocução”, explica a curadora, em comunicado da galeria.
“Eles três têm um repertório de materiais que é bastante singular. A Siwaju tem um trabalho com ferro bastante expressivo e também com gravuras. A Iah, com tecido e papel. Já Loren, com terra, argila, galhos, materiais orgânicos, naturais. Então o conjunto de materiais com que já trabalhavam se somou àqueles disponíveis aqui na fábrica, elementos impregnados de muita história”, conta a curadora.
Clarissa e os artistas empreenderam investigações em torno “dos imaginários, políticas e formas do vento, do movimento, do vazio, do oco, do avesso”. Na segunda etapa do projeto, fragmentos II, as pesquisas terão como fio condutor as ideias de armadilha, defesa, feitiço, armadura. Os mesmos artistas participarão da nova fase, novamente tirando partido do lugar que eles ocupam.
Nesta primeira etapa, a artista Iah Bahia (1993 São Gonçalo, RJ) mostrará trabalhos criados a partir de sua prática e pesquisa, que envolve experimentações interdisciplinares com a “matéria-tecido, matéria-lixo e de outros elementos substanciais coletados no território urbanizado”. Nas obras, Iah sublinha as tensões do espaço habitado.
Loren Minzú (1999, São Gonçalo, RJ) vai revelar os frutos de sua investigação acerca da “produção de imagens ligadas a noções temporais, espaciais e corporais”. Vai apresentar um conjunto de obras audiovisuais, instalações e esculturas com vegetais, minerais e artefatos, entre outros. Minzú articula, em suas criações, luminosidade e escuridão, entre outras questões.
Já Siwaju Lima (1997 São Paulo, SP), cuja produção se debruça sobre relação do tempo por meio do reaproveitamento de peças de ferro doadas ou encontradas, irá exibir criações que têm uma relação direta com a escultura fundida. Siwaju explora as “possíveis relações entre a matéria e os símbolos que incorpora, entre o objeto e seu entorno, entre corpo escultórico e o espaço, e entre a obra e nossos corpos”, diz o comunicado da Nonada.
Em seu texto curatorial, Clarissa Diniz destaca que em fragmento I: vento pórtico o público não estará “diante de projetos estéticos extrativistas no seio dos quais as matérias são instrumentalizadas como recursos a serem apropriados por mãos e gestos autoritários”, afirma. “Ao contrário, Vento Pórtico desdobra-se em exercícios poéticos cuja ética implica em dobrar, acariciar, oxidar ou tocar materialidades como a corpos cúmplices com os quais compartilhamos segredos, saberes, desejos e pragas.”