GABRIEL PÉREZ-BARREIRO
Gabriel Pérez-Barreiro, espanhol, vive entre São Paulo e Nova York, EUA, é doutor em História e Teoria de Arte pela Universidade de Essex (Reino Unido) e mestre em História da Arte e Estudos Latino-Americanos pela Universidade de Aberdeen (Reino Unido) - Foto: Bienal 2018

AProxíma Bienal de São Paulo promete esfacelar uma série de modelos há muito vigentes. A primeira das instituições a ter sua tradição arranhada é a do curador-autor. Desde pelo menos a 23ª edição do evento, a mostra se organiza em torno de um projeto pessoal, muitas vezes imposto de fora, de uma idéia diretora de um único responsável, que no máximo dividia as responsabilidades com uma equipe de assistentes. Incomodado com isso, Gabriel Pérez-Barreiro resolveu inverter um pouco as coisas. Ele diluiu em seu projeto não apenas a ideia de conceito norteador, adotando como mote a noção bastante aberta da “Afinidade Afetiva”, mas sobretudo horizontalizando de forma radical não apenas a concepção, mas a exposição como um todo, ao convidar sete artistas para assumirem, ao seu lado, a curadoria do evento.

Em outras palavras, elimina-se a clássica fronteira entre curadores e artistas. “Acho que esses dois termos são equivalentes”, faz questão de esclarecer Pérez-Barreiro. “As imposições são poucas e são de ordem apenas burocrática, relativas a questões como orçamento – igual para todos –, ter de inserir sua própria obra na exposição e não interferir na ‘ilha’ do outro”, explica. Ilha é como estão sido chamados os núcleos concebidos por Alejandro Cesarco, Antonio Ballester Moreno, Claudia Fontes, Mamma Anderson, Sofia Borges, Waltercio Caldas e Wura-Natasha Ogunji. De diferentes gerações e origens, os caminhos trilhados por cada um deles são únicos e diversificados.

Enquanto Waltercio Caldas tem lidado com obras que já existem, propondo um trabalho mais próximo de uma curadoria de museu (em maneira semelhante ao que já havia desenvolvido na 6ª Bienal do Mercosul, também curada por Pérez-Barreiro, em 2007), Wura Ogunji e Claudia Fontes – que já tem uma tradição de trabalho em rede – se voltaram para a comunidade de artistas, horizontalizando o sistema e incorporando trabalhos novos, comissionados especialmente para a 33ª Bienal.

“São sete aulas de curadoria”, diz. “Olhei para eles mais pela diferença, pela diversidade formal e de processo, do que pela semelhança”, acrescenta o curador. “É uma herança do modernismo pensar que que existam versões corretas e incorretas”, explica ele. A necessidade de expandir seus horizontes de forma não tão controlada e de assumir riscos que o tirassem da posição confortável de repetir o que já sabe fazer levou Pérez-Barreiro a evitar fazer mais do mesmo.

Dos sete curadores-artistas convidados, conhecia anteriormente apenas dois deles (Waltercio Caldas e Alejandro Cesarco). Outras regras que o curador estabeleceu para suas escolhas foram a do equilíbrio entre os gêneros e o respeito a uma certa balança geopolítica tradicionalmente seguida para a Bienal, de garantir uma maior representatividade de artistas brasileiros e latino-americanos (com cada um desses grupos correspondendo a cerca de um terço da mostra). Não necessariamente os co-curadores se aterão a esses critérios. Entremeando cada uma das sete ilhas de cada um dos artistas-curadores, o visitante encontrará as escolhas do próprio Pérez-Barreiro. A divulgação dos nomes finais deve ocorrer em breve, mas ele adianta que sua seleção é extremamente ampla, indo de um filme inédito a algumas pontuações históricas. Dentre elas, destacam-se obras da série Césio, de Siron Franco. Criado em 1987, o trabalho faz uma ácida crítica ao acidente radioativo ocorrido em Goiânia pouco tempo antes. No total, a Bienal terá cerca de 80 participantes, número que ele considera satisfatório para conseguir viabilizar uma exposição leve, sem que o visitante se sinta exausto após a visita.

A ideia é exercitar no público o exercício do olhar, que ele possa realizar suas próprias escolhas, entender-se afetivamente e não racionalmente com a obra de arte. O título escolhido, que mescla referências a Goethe e Mário Pedrosa – sobre quem Pérez-Barreiro acaba de fazer uma exposição, no museu espanhol Reina Sofía –, reitera esse caminho. A noção de atenção, de interação com os trabalhos, também é essencial nesse projeto. “O que mudou radicalmente nos últimos anos é a introdução das redes sociais, a invasão da tecnologia na vida das pessoas. Isso nos leva a pensar em como criar a possibilidade de um espaço autêntico, de pensamento sobre a realidade que nos envolve e a arte é um espaço altamente privilegiado para isso, porque fala de relação, fala da ambiguidade”, explica. Esse desenvolver do foco, de troca entre o espectador e a obra, ganha um peso grande no projeto educativo. Aliás, este também apresenta uma mudança de foco em relação às outras edições, indica Pérez-Barreiro, na medida em que privilegiará um material com uma vida mais longa, sem vínculo estrito com o conteúdo da Bienal para que possa tornar-se um instrumento mais amplo e despertar a consciência da própria atenção para além dos limites temporais do evento.

No último dia 20 de março, a Bienal divulgou oficialmente o nome de 12 novos expositores que integram a lista da Bienal de Arte 2018


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