Page 20 - ARTE!Brasileiros #37
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VOCÊ QUER SER ANALFABETO?
POR PATRICIA ROUSSEAUX, DIRETORA EDITORIAL
T emáticas relativas às diferentes interpretações
da história, à questão indígena, ao consumismo,
à originalidade (ou falta dela) na arte
contemporânea e à ressignificação dos
espaços expositivos surgem nas matérias das
mostras de Gustavo Von Ha, Leda Catunda
e Ana Maria Tavares ou nas exposições coletivas,
como A Missão Artística Francesa no Brasil
e Seus Discípulos e Adornos do Brasil
Indígena: Resistências Contemporâneas.
EDITAMOS ESTE NÚMERO a quatro mãos, Ou ainda com a teimosa obra do jovem
eu e Marcos Grinspum Ferraz. Apesar de ele Rodrigo Braga, que se enreda o tempo
querer ser somente repórter especial e todo na relação homem-natureza.
músico, se mostrou um excelente gestor. Para encerrar a cobertura da 32ª Bienal
Nesta edição inauguramos a versão em de São Paulo, feita durante todo o ano pela
língua inglesa, encartada em papel especial ARTE!Brasileiros – com uma série de reportagens,
ao final da revista. vídeos e seminários –, Marcos Grinspum Ferraz
A diversidade de temáticas abordadas pelos conversa com visitantes no Pavilhão
artistas e a diversidade de “leituras” que do Ibirapuera para ouvir suas opiniões; Fabio
são feitas por eles da realidade, trazendo-as Cypriano discorre sobre a importância do evento
à tona para observação e reflexão, nas enquanto espaço de experimentação; e Leonor
inúmeras exposições que acompanhamos, Amarante escreve sobre o trabalho audiovisual
só ratifica a ideia de que a arte está longe de Rachel Rose. Na seção de críticas, a Bienal
de ser uma mera disciplina a ser aprendida ainda é tema de uma análise negativa e outra
na escola. A teoria de que buscar a forma e a positiva: enquanto a curadora Amarante aponta
materialidade continua sendo a única função para a falta de potência de boa parte dos
das artes plásticas, na arte contemporânea trabalhos expostos, o antropólogo Pedro
é tão ultrapassada – pela filosofia, psicanálise, Cesarino ressalta o valor da edição como ação
ciência e tecnologia – que parece risível que, transformadora, fundamental nos dias de hoje.
hoje, políticos de quinta categoria possam Ainda chamam atenção neste número três
apenas por uma canetada ignorar sua tipos de mecenato: investidores privados
verdadeira importância na cultura de um país. que incentivam artistas; colecionadores que
Só para continuar na contracorrente doam parte importante das obras do seu
do desmonte e fazer uso da memória, acervo a museus públicos; e colecionadores
neste número ARTE! estreia a seção que colaboram com projetos institucionais
História das Exposições, com textos e exibem suas coleções ao público.
que analisam mostras que fizeram história Por fim, Guto Lacaz ganha perfil, escrito por
na América Latina. A ideia surgiu Cypriano, a partir de sua obra Eletro Esfero
no nosso ciclo Processos Curatoriais, Espaço. O artista acaba de ter o trabalho, que
iniciado em setembro deste ano, junto foi exposto pela primeira vez em 1987, adquirido
ao crítico, pesquisador e curador espanhol pela Pinacoteca do Estado de São Paulo.
Juan José Santos. O primeiro artigo A arte não é uma escolha. A arte está na garatuja,
discorre sobre a Bienal de Havana de 1986, faz parte do desenvolvimento da escrita,
evento que mudou os paradigmas vigentes da construção emocional e cognitiva do sujeito. FOTO COIL LOPES
na arte daquele momento. Você quer ser analfabeto?
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Book_37.indb 20 11/21/16 8:25 PM