Page 30 - ARTE!Brasileiros #38
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ARTE URBANA SÃO PAULO
À MARGEM DA MARGEM
GRAFITEIROS DE SÃO PAULO FALAM SOBRE QUESTÕES DE
TERRITÓRIO, O TRÂNSITO ENTRE CENTRO E PERIFERIA E APONTAM
POSSIBILIDADES DE DIÁLOGO COM A CIDADE E O PODER PÚBLICO
TEXTO E FOTOS GUSTAVO FIORATTI
A RELAÇÃO ENTRE O GRAFITE e seus espec- sair de casa para visitar a cidade e prestar atenção
tadores tem algo que o torna singular no campo ao que, nela, é dito?
das artes: criadas para locais públicos, interven- A experiência que resultou neste texto parte
ções urbanas quase sempre nos pegam no pulo. de um roteiro de cinco trajetos, nas quatro
Quem vai a uma galeria ou a um museu prepara regiões da cidade e também no centro. Há a
antes o seu olhar. Quem anda pelas ruas, não. O marca de grafiteiros por todos os cantos de
sujeito pode estar bêbado, estressado, pode estar São Paulo, em becos e grandes avenidas, nas
carregando as sacolas do supermercado. empenas cegas dos edifícios, sob as pontes,
Este texto que o leitor tem em mãos foi, porém, nas linhas de trem. É um exército numeroso
escrito a partir de uma proposta menos incisiva e disposto a enfrentar a lei e o poder público.
sobre a vocação mais inequívoca do grafite. Se Uma regra parece ser fundamental para delimitar
Fernando Pessoa nos alertou que navegar é pre- os territórios preferidos pelos artistas. Onde os
ciso, o grafite agora desloca esse belo verbo do olhares passam com mais frequência, há mais
léxico náutico para o mar de asfalto. Por que não grafites, como se nessa troca estivesse contida
Book_ARTE_38_POR.indb 30 3/3/17 9:48 PM