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INTERNACIONAL ARTE E POLÍTICA






             ATO E RESISTÊNCIA





             PROTESTOS, CARTAZES E MANIFESTOS VOLTAM A FREQUENTAR AS RUAS DE
             NOVA YORK APÓS A POSSE DE TRUMP; PESQUISADORA APONTA FENÔMENO
             DE APROXIMAÇÃO ENTRE ATIVISMO E ARTE TAMBÉM NO BRASIL


             POR MARIANA TESSITORE






             EM 1970, UM GRUPO de artistas ocupou as     trabalho beneficiaria uma propriedade federal,
             ruas de Nova York em protesto contra a Guerra do  e, depois da posse de Trump, o artista decidiu
               Vietnã e a morte de seis homens negros nas ruas de  interromper o projeto, no qual já havia investido
             Augusta, na Geórgia. Denominado Greve da Arte,   14 milhões de euros. Outros nomes como Barbara
             o movimento pressionava as instituições culturais   Kruger, Richard Serra, Richard Prince e Shepard
             a se posicionarem contra a guerra e as decisões   Fairey também se manifestaram.
             bélicas do presidente recém-eleito Richard Nixon.   Além de artistas, várias instituições culturais se
             Passados quase 50 anos do episódio, artistas   posicionaram contra as ações do atual presidente.
             americanos voltam a encampar posicionamentos   O MoMA chegou a retirar das paredes quadros
             políticos mais diretos, mobilizando-se contra as   do seu acervo permanente e no seu lugar expôs
             ações do republicano Donald Trump, que assumiu   trabalhos de artistas de nações muçulmanas (Irã,
             a presidência do país no dia 20 de janeiro e logo   Iraque, Síria, Líbia, Somália e Sudão), cujos cida-
             em seguida colocou em prática várias das suas   dãos entraram para a lista de barrados. Saíram do
             promessas de discriminação social e econômica.  quinto andar Picasso, Matisse e Picabia; entraram,
              Performances, cartazes e petições foram produzi -  quase numa provocação, obras  da arquiteta ira-
             dos, criando uma intersecção entre arte e protesto   quiana Zaha Hadid e do pintor sudanês Ibrahim
             político, especialmente diante de um decreto que   el-Salahi, entre outros.
             restringiu, em fevereiro, a entrada de muçulmanos   Em entrevista à ARTE!Brasileiros, o sociólogo Miguel
             em todo o território do país.               Chaia comenta que ficou surpreso com o posicio-
             O britânico-indiano Anish Kapoor, por exemplo,   namento do museu.  “Por funcionarem dentro da
             concebeu uma obra inspirada no pôster da icônica  ordem, as instituições tendem a agir como elemen -
             performance I Like America and America Likes   tos de controle. Normalmente são os artistas e não
             Me (eu gosto da América e a América gosta de   os museus que protestam. Mas existem momentos
             mim), do alemão Joseph Beuys. Kapoor recriou   de exceção como esse do MoMA”.
             o cartaz, inserindo a sua própria imagem à obra
             e a renomeando com o título I Like America and   ARTE E RESISTÊNCIA
             America Doesn’t Like Me (eu gosto da América e   Essa grande quantidade de manifestações trouxe
             a América não gosta de mim).                à tona novamente a ideia do lugar da arte como
             Outro importante representante da arte con-  um espaço de resistência. Isso esteve presente
             temporânea, Christo desistiu de um projeto no   em inúmeros momentos da história. Em entrevista
             Estado do Colorado. O artista desenvolvia um   à revista, a psicanalista Suely Rolnik afirma que
             toldo prateado que percorreria uma extensão de   a arte pode ser uma forma de militância e servir
             68 quilômetros sobre o rio Arkansas. Porém, o   como veículo para uma mensagem política.


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