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CRÍTICA LIVRO
FALTA A VOZ DO ARTISTA
Posição Amorosa – Hudinilson Jr. apresenta obra
de forma ampla com análises superficiais
POR FABIO CYPRIANO
POSIÇÃO AMOROSA – HUDINILSON JR., escrito
por Ricardo Resende e organizado por Roberta
Marinho, tem o objetivo de apresentar a obra do
artista, morto recentemente com pouca visibilidade. POSIÇÃO AMOROSA –
HUDINILSON JR.
(464 PÁGINAS).
Alguns artistas, como Hudinilson Jr. (1957-2013), são EDITORA MARTINS FONTES.
marginais ao mercado de arte por razões complexas AUTOR: RICARDO RESENDE
e nem sempre só por incompatibilidade com as regras
desse sistema, e sua morte poderia representar
o desaparecimento do debate sobre sua obra.
Nesse sentido, Posição Amorosa (Martins Fontes, 464
páginas, R$ 75) tem a importância de documentar sua
obra de forma ampla – praticamente todas as suas séries
estão representadas na publicação de forma generosa –
em mais de cem imagens. Além delas, o livro contém ainda
um ensaio fotográfico, realizado por Vitor Butkus,
na casa-ateliê de Hudinilson, revelando alguns detalhes
de seu ambiente cotidiano, importante para a compreensão
de seu ambiente cotidiano, importante para a compreensão
de sua obra, como Resende afirma ao longo da publicação.
Hudinilson é uma figura-chave das atividades transgressoras
Hudinilson é uma figura-chave das atividades transgressoras
na cena paulistana dos anos 1970 e 1980, participando
ativamente ora da cena de grafite na cidade, ora em
intervenções públicas – através do Grupo 3NÓS3, criado
com Mario Ramiro e Rafael França – e ainda nas ações
experimentais do Museu de Arte Contemporânea da USP,
à época de Waltez Zanini, seja pela mail art, seja pelo
uso de novas tecnologias, como as máquinas de xerox.
Tudo isso já é suficiente para inscrever sua presença
na história da arte recente, mas é certo que a partir
dos anos 1990 sua presença institucional diminui
e falta na publicação algo que dê conta dessa lacuna.
Apesar de seguir produzindo, especialmente colagens,
elas não alcançam a visibilidade de suas outras ações.
Entre 1990 e 2001, por exemplo, Hudinilson
não organiza nenhuma mostra individual.
Para se compreender melhor isso, faz falta na publicação
Para se compreender melhor isso, faz falta na publicação
a voz do artista. Em muitos momentos, o autor explica PINTO NÃO PODE, (1981)
a grande dificuldade em entrevistá-lo e mesmo o fato
de ter perdido algumas horas de gravação por questões constituir em uma imagem elevadora moralmente.
técnicas. Sua forma de compensação, contudo, A radicalidade e a importância de Hudinilson
é completar então a história com contextualizações estavam justamente em não querer construir
um tanto óbvias – especialmente o capítulo dedicado uma mensagem edificante, mas criar uma
aos anos 1970 ou o significado de um arquivo – obra contundente e afinada com suas opções.
e uma mitificação do artista e suas temáticas. Ao longo de todo o texto, Resende insisti nessa
“Ele mostra que existe beleza entre dois homens fazendo complacência, compreensível em uma fala
sexo. Basta deixar de lado o preconceito e orientações entre amigos, mas não em um texto que visa olhar
religiosas”, chega a afirmar o autor em um trecho, para a produção de Hudinilson de forma ampla.
de certa forma até banalizando a obra do artista. Afinal, Sem a voz do próprio Hudinilson, resta a leitura FOTOS VITOR BUTKUS | FILIPE BERNDT
mostrar beleza poderia dar a indicar que Hudinilson do curador amigo, por demais generosa
ansiava por uma arte com fins meritórios, quando fazer e complacente. Como afirmava André Gide,
colagens de vários homens de pau duro está longe de se “com bons sentimentos faz-se má literatura”. SEM TÍTULO (1976)
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