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BIENAL DE SÃO PAULO REFLEXÃO
– Zanini chamava o MAC de museu-casa –, foi tro -
cada por um significativo aporte de leis de incen-
tivo que, contudo, não revertem a artistas, mas
a produtores culturais, especialmente aqueles
patrocinados por corporações financeiras.
Com isso, a Bienal acabou por se tornar um dos
poucos espaços para a produção de novas obras
que podem ser de fato consideradas experimen-
tais. Afinal, raras são as galerias que não apre-
sentam objetos decorativos que possam ir direto
para as paredes de colecionadores.
Nesse sentido, é significativo constatar que
essa estratégia de abertura para o experimen-
tal partiu de times curatoriais com profissionais
vinculados a instituições museológicas sólidas:
Jochen Volz, o curador da edição atual, nos
últimos anos trabalhou na Serpentine Galleries,
de Londres, além de manter-se ligado a Inhotim,
enquanto Charles Esche, um dos curadores da
edição passada, era diretor do Museu Van Abbe,
na Holanda, ao qual segue filiado.
Com isso, pode-se perceber como os responsá-
veis pelo sistema institucional deram conta de DOIS PESOS, DUAS MEDIDAS (2016), LAIS MYRRHA
que o local de risco de fato é a Bienal, e parte
das críticas atribuídas a essa edição se deve à
constatação desse tipo de estratégia. No caso
de Incerteza Viva, em que a maioria das obras aparente do público. Quem de fato tem reclamado são figuras
foi feita por comissionamento dos curadores, com acesso aos meios de comunicação, que parecem querer
não há como garantir um resultado totalmente na Bienal o mesmo tipo de arte comportada das feiras.
de sucesso. Mas deve se cobrar isso em arte Se fosse assim, a cidade só teria um tipo de produção e a
contemporânea? Erika Verzutti nunca havia monotonia seria a tônica dominante. Em sua edição de 1910,
feito trabalhos murais de grandes dimensões, assim o organizador da Bienal de Veneza retirou a única obra de
como Lais Myrrha nunca havia construído estrutu - Picasso do pavilhão espanhol com medo de que seu arrojo
ras monumentais, e nem Cristiano Lenhardt havia chocasse o público e, só em 1948, Picasso foi visto de fato
realizado uma performance de grande escala. na mãe das Bienais. Três anos depois, em 1951, Picasso
Só a possibilidade de experimentação desses seria visto na primeira edição da Bienal de São Paulo, que
artistas já vale sua participação, uma vez que em sua segunda edição apresentou não só sua obra-prima,
não é pelo critério de satisfação de uma ou Guernica, como um conjunto de 74 obras do artista espanhol.
outra personalidade ou de atenção do público O arrojo é marca da Bienal de São Paulo, e o que as atuais
que uma obra contemporânea deve ser avaliada. edições estão apresentando segue apenas a tradição da
A dificuldade, contudo, seria em como conciliar a mostra em se ocupar do presente acima de tudo. Se certas
vontade de um público amplo, portanto não acos- obras questionam a figura do artista e do próprio curador
tumado à arte contemporânea, que a Fundação em detrimento de produções culturais mais complexas, é
Bienal almeja, com ênfase em uma produção que preciso buscar compreender o que isso significa em vez FOTO PATRICIA ROUSSEAUX
poderia ser menos acessível. Quem visita a mos- de ficar buscando fórmulas simples que determinem o que
tra agora percebe que não há uma má vontade é arte e que se baseiem em gostos meramente pessoais.
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Book_37.indb 42 11/21/16 8:26 PM