Page 38 - ARTE!Brasileiros #37
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BIENAL DE SÃO PAULO  RACHEL ROSE

































             EVERYTHING AND MORE (2015), RACHEL ROSE


             consegue esse efeito e comprova a tese de Judd   outro vídeo também exposto nesta 32ª edição,
             publicada em seu livro Specific Objects, de 1965.  o Everything and More , instalado dois andares
             Como defende Nicolas Bourriaud, as noções de   acima de A Minute Ago, que está no térreo. Neste
             originalidade e criação esfumam-se nessa nova   trabalho o que está em jogo é a sensação de
             paisagem cultural híbrida. É como se a artista fosse  estranhamento em relação ao que está ao redor.
             um DJ selecionando objetos culturais e inserindo-  Rachel parte de uma entrevista feita por ela com
             -os em contextos definidos. David Lamelas, artista   o astronauta David Wolf, da Nasa, na qual ela ouve
             e teórico argentino, vai além: “As obras não existem   sobre a aventura de permanecer no espaço e o
             como produto final porque nunca são finalizadas”.   momento emocionante de retornar à Terra. Enfa-
             Rachel se inspira no dinamismo contemporâneo   tiza, na medida, a declaração de Wolf ao descrever
             que trabalha possibilidades visuais proporcionadas   sua sensação diante da imensidão do universo, da
             por outros instrumentos, não só o olho. Ela explora   luz das estrelas, da beleza da Terra e do cheiro de
             o sensorial e o fantasmático em sua produção.  grama sentido ao desembarcar, confirmando que
             Independentemente de estar ou não em uma Bie-  realmente está em casa.
             nal, um trabalho tem que dar conta sozinho da   Mais uma vez Rachel sobrepõe planos, num jogo
             apreensão do espectador. A Minute Ago magnetiza   conceitual e técnico, reelabora imagens de esferas
             por 11 minutos ao construir uma poética virtual   e líquidos em movimentos como módulos experi-
             dotada de um coeficiente de arte que sem a ação   mentais, em uma alusão à Via Láctea. Estas ima-
             manipuladora de imagens daria a sensação de   gens em suas mãos são como músicas sampleadas
             algo “inabitado”.                           por um DJ para chegar à sua composição. Estamos
             Esta videoinstalação reflete sobre a produção   vivendo um momento de explosão do protocolo do
             contemporânea e suas fronteiras diluídas. Rachel   autor, como define Bourriaud. Assim como outros
             se insere no grupo de videomakers que trabalha a  artistas contemporâneos, Rachel reproduz obras
             ideia de “pós-produção”, teorizada por Bourriaud,   do passado para desenvolvê-las com estratégias
             termo técnico usado no mundo da televisão, cinema   diferentes do presente. Achille Bonito Oliva, o
             e vídeo – e aquilo que Rachel elabora ao criar pontes   teórico da Transvanguarda, já em 1980 previa
             entre o silício e a pintura.                que o artista seria um nômade circulando por         FOTO PEDRO IVO TRASFERETTI
             O interesse renovado de Rachel pelas múltiplas   todas as épocas e estilos, se apropriando deles e
             possibilidades  da  videoarte  está  latente  em   os reinventando.


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