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BIENAL DE SÃO PAULO RACHEL ROSE
EVERYTHING AND MORE (2015), RACHEL ROSE
consegue esse efeito e comprova a tese de Judd outro vídeo também exposto nesta 32ª edição,
publicada em seu livro Specific Objects, de 1965. o Everything and More , instalado dois andares
Como defende Nicolas Bourriaud, as noções de acima de A Minute Ago, que está no térreo. Neste
originalidade e criação esfumam-se nessa nova trabalho o que está em jogo é a sensação de
paisagem cultural híbrida. É como se a artista fosse estranhamento em relação ao que está ao redor.
um DJ selecionando objetos culturais e inserindo- Rachel parte de uma entrevista feita por ela com
-os em contextos definidos. David Lamelas, artista o astronauta David Wolf, da Nasa, na qual ela ouve
e teórico argentino, vai além: “As obras não existem sobre a aventura de permanecer no espaço e o
como produto final porque nunca são finalizadas”. momento emocionante de retornar à Terra. Enfa-
Rachel se inspira no dinamismo contemporâneo tiza, na medida, a declaração de Wolf ao descrever
que trabalha possibilidades visuais proporcionadas sua sensação diante da imensidão do universo, da
por outros instrumentos, não só o olho. Ela explora luz das estrelas, da beleza da Terra e do cheiro de
o sensorial e o fantasmático em sua produção. grama sentido ao desembarcar, confirmando que
Independentemente de estar ou não em uma Bie- realmente está em casa.
nal, um trabalho tem que dar conta sozinho da Mais uma vez Rachel sobrepõe planos, num jogo
apreensão do espectador. A Minute Ago magnetiza conceitual e técnico, reelabora imagens de esferas
por 11 minutos ao construir uma poética virtual e líquidos em movimentos como módulos experi-
dotada de um coeficiente de arte que sem a ação mentais, em uma alusão à Via Láctea. Estas ima-
manipuladora de imagens daria a sensação de gens em suas mãos são como músicas sampleadas
algo “inabitado”. por um DJ para chegar à sua composição. Estamos
Esta videoinstalação reflete sobre a produção vivendo um momento de explosão do protocolo do
contemporânea e suas fronteiras diluídas. Rachel autor, como define Bourriaud. Assim como outros
se insere no grupo de videomakers que trabalha a artistas contemporâneos, Rachel reproduz obras
ideia de “pós-produção”, teorizada por Bourriaud, do passado para desenvolvê-las com estratégias
termo técnico usado no mundo da televisão, cinema diferentes do presente. Achille Bonito Oliva, o
e vídeo – e aquilo que Rachel elabora ao criar pontes teórico da Transvanguarda, já em 1980 previa
entre o silício e a pintura. que o artista seria um nômade circulando por FOTO PEDRO IVO TRASFERETTI
O interesse renovado de Rachel pelas múltiplas todas as épocas e estilos, se apropriando deles e
possibilidades da videoarte está latente em os reinventando.
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Book_37.indb 38 11/21/16 8:25 PM