Page 41 - ARTE!Brasileiros #37
P. 41
AS DUAS EDIÇÕES RECENTES da Bienal de São
Paulo, tanto Como (...) Coisas que Não Existem,
de 2014, quanto Incerteza Viva, que segue no
pavilhão do Ibirapuera, possuem várias coincidên-
cias conceituais, entre elas o incentivo à criação
de novas obras, realizadas especificamente no
contexto das exposições.
O fomento à produção, portanto, parece ser uma
característica fundamental que a Bienal de São
Paulo passou a incorporar diante de uma situa-
ção de certa instabilidade no circuito das artes.
Claramente, o setor mais organizado e com mais
visibilidade é o mercado, com as galerias e feiras,
que se tornaram locais de encontro ao mimetiza-
rem, nos últimos tempos, algumas atividades que
o próprio sistema de bienais criou como forma
de repensar esse sistema.
Seminários, performances, ciclos de filmes e
mostras com curadoria se tornaram comuns em
feiras, como estratégia para dar consistência e
glamour a um evento basicamente mercantil, que
interessaria apenas a quem vende e compra. Foi
com a Art Basel Miami Beach, em 2002, tendo à
frente Samuel Keller, que feiras se renovaram e
buscaram criar um novo perfil, não só com con-
teúdo, mas também em festas com celebridades,
o que virou tendência nas feiras do mundo todo.
Em São Paulo, os museus não têm dado conta de
fomentar a produção artística. O Museu de Arte
Moderna de São Paulo, por exemplo, tem basi-
camente exposto seu acervo como estratégia de
economizar em suas mostras, e algo semelhante
vem ocorrendo no MAC-USP e na Pinacoteca
do Estado, que raramente, aliás, exibem novos
trabalhos de artistas. Muitas vezes, quando o
WHITE MUSEUM (2010/2016), fazem é graças a artistas que conseguem apoio
ROSA BARBA. A INSTALAÇÃO É UMA
PROJEÇÃO DE LUZ BRANCA SOBRE A em editais públicos independente das instituições.
RAMPA DE ENTRADA DO PAVILHÃO Esse cenário torna-se mais lúgubre quando se
DA BIENAL, CUJO ENQUADRAMENTO, recorda o papel que o MAC assumia nos anos 1970
COMUM À FOTOGRAFIA E AO e 1980, como local frequentado por jovens artis-
CINEMA, SE TORNA UMA PRESENÇA FOTO ILANA BAR/ ESTÚDIO GARAGEM/ FUNDAÇÃO BIENAL DE SÃO PAULO tas, sob o estímulo de Walter Zanini, com as JACs
FÍSICA. O FILME É UMA MATÉRIA- (Jovem Arte Contemporânea), mostras organiza-
PRIMA FREQUENTE NA OBRA
DA ARTISTA ITALIANA. COM SUA das anualmente no museu entre 1967 e 1974. A
CÂMERA, ELA PRODUZ TRABALHOS precariedade institucional da segunda metade do
QUE INVESTIGAM COMO O HOMEM século XX, que garantia a muitos artistas ocupa-
SE RELACIONA COM A PAISAGEM rem museus já que o faziam por iniciativa própria
41
Book_37.indb 41 11/21/16 8:26 PM