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EXPOSIÇÃO SÃO PAULO






             UMA LEITURA FORA DE SÉRIE





             MOSTRA REVÊ PAPEL DE ANITA MALFATTI JUNTO AO MODERNISMO, APONTANDO
             VALORES EM SUA OBRA PARA ALÉM DA IMAGEM DE ARTISTA-MÁRTIR


             POR MARIA HIRSZMAN




             EFEMÉRIDES SÃO BOAS OCASIÕES para revi-
             sitar obras fundamentais. Se muitas vezes essas
             homenagens servem apenas como um lembrete
             da importância de determinado artista ou obra, há
             casos em que o evento celebratório abre espaço para
             uma releitura mais ampla e completa, agregando
             novas perspectivas de análise e fruição. É o caso,
             por exemplo, de Anita Malfatti – 100 Anos de Arte
             Moderna, em cartaz no Museu de Arte Moderna de
             São Paulo (MAM-SP) para celebrar o centenário da
             exposição polêmica da pintora, que acabou se tor-
             nando um dos marcos fundadores do Modernismo
             no País. Com 70 obras, a mostra não se atém àquele
             momento preciso. Pelo contrário, traça um rico
             panorama da produção da artista, explicitando suas
             principais escolhas e contrapondo-se de maneira
             clara à versão oficial, ainda repetida nas salas de
             aula, que reduz Anita a uma espécie de mártir do
             movimento, uma estrela de brilho intenso porém
             efêmero, que teria se deixado abalar pela crítica
             incisiva de Monteiro Lobato, publicada por ocasião
             de sua exposição de 1917, expressando-se escanda-
             lizado com o estrabismo das escolas rebeldes como
             o Expressionismo, ao qual ela teria aderido.
             Trabalhada ao longo de um ano de pesquisa pela
             curadora Regina Teixeira de Barros e proveniente
             de diversas coleções públicas e particulares do
             País, a seleção se debruça sobre os três grandes
             momentos em torno dos quais se aglutina a pintura
             de Anita: os anos de vanguarda, marcados pelas
             viagens à Alemanha e aos Estados Unidos e pelas
             exposições de 1914 e 1917,  realizadas numa ainda
             pacata e conservadora São Paulo; a produção dos
             anos 1920, vividos em parte na França e na qual se
             nota uma forte tendência ao retorno à ordem e uma


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