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EXPOSIÇÃO SÃO PAULO
CARRINHO (2017), ROCHELLE COSTI
E RENATO FIRMINO
A instalação Stand Center, de Marcelo Cidade, também vídeo S, do gaúcho Luiz Roque. Filmada na linha verde do
representa a Paulista a partir de uma perspectiva pouco metrô, a ficção científica retrata três homens que vivem
usual. O trabalho reproduz as estruturas das barraquinhas no subsolo, isolados do restante da sociedade. Nesse
do comércio informal da avenida. São várias estruturas local um tanto sombrio, eles se comunicam apenas a
colocadas uma dentro da outra. No centro, em destaque, partir da linguagem corporal.
há um ovo localizado numa base giratória. Inicialmente, Roque queria fazer uma produção sobre a
A obra é uma referência às inúmeras vitrines localizadas prostituição no Parque Trianon. Porém, acabou optando
na Paulista e ao desejo insaciável gerado pelo consumo. por filmar uma distopia num local marginalizado. “O
A escolha do ovo como objeto é um recurso irônico: “Por filme é um comentário sobre essas hierarquias, quem
ser um objeto do cotidiano, o ovo desconstrói essa ideia está acima ou abaixo na sociedade. Essa ideia também
de valor do que está na vitrine”. está na própria localização do trabalho, que fica no sub -
Cidade também faz uma crítica às instituições culturais terrâneo do museu. O vídeo tem um pouco de tensão
que expõem obras como produtos de consumo. “Quando sexual, falando sobre desejo e violência, algo com que a
um trabalho é colocado na estrutura do cubo branco, comunidade LGBT convive muito de perto.”
ele é fetichizado, tornando-se inacessível. Sem dúvida Roque afirma que o trabalho possui um tom pessimista
essas estratégias de mercado também são adotadas e que dialoga com a situação política do País: “A história
pelo próprio sistema da arte”, afirma. é cíclica. Quando fazemos uma análise, vemos que há
A paulistana Graziela Kunsch, por sua vez, apresenta ondas liberais de direitos humanos seguidas de períodos
um vídeo que retrata uma das manifestações contrárias sombrios e conservadores. Infelizmente, estamos vivendo
ao aumento da tarifa de ônibus, realizada em 2013. A um momento que não é dos mais esperançosos”.
obra tem como locação o túnel que conecta a Paulista Além das obras citadas, a mostra conta com produções
com a avenida Dr. Arnaldo. Na primeira sequência do comissionadas de mais nove artistas. Em comum, os
filme, diversos carros fazem um retorno irregular dentro diversos olhares revelam as contradições em torno
do túnel. A razão dessa ação é explicada em seguida, da avenida, como enfatiza o curador: “É evidente que
quando o vídeo mostra uma manifestação que vem de aqui é um local de disputa e que existe um movimento
encontro ao congestionamento. para que a cidade seja ocupada não só pelas classes
Para Toledo, a obra tem um grande impacto por mos- dominantes, mas por outras parcelas da população. A
trar os veículos quase acuados pela manifestação. “É exposição trata desse fenômeno”.
muito bonito porque um local que costuma ser total-
mente ocupado por carros é invadido pela população. O Avenida Paulista
impacto disso é ainda maior numa cidade como a nossa, Até 28 de maio
que prioriza o transporte individual em detrimento do Masp
coletivo”, afirma. Avenida Paulista, 1.578, São Paulo, SP
11 3149-5959
O transporte público também é uma referência central no
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Book_ARTE_38_POR.indb 50 3/3/17 9:48 PM