Page 66 - artebrasileiros-64
P. 66

GALERIA RIO DE JANEIRO



                                    Em clima de carnaval, a galeria,
                                    localizada no centrão do rio,
                                    colocou artistas, convidados
                                    e o povão para dançar

                                    por leonor amarante



            FORROBODÓ,


            OU 20 ANOS DE A


            GENTIL CARIOCA










            como poucas galerias de arte, A Gentil Carioca
            transforma suas aberturas especiais numa grande festa
            de rua. No último sábado, não foi diferente: a mostra For-
            robodó lotou a vizinhança com performances, músicas
            e muita dança para comemorar os 20 anos do icônico
            espaço do Rio, movido por loucura e arte. Ocupando
            os casarões dos anos 1920, a Gentil mais uma vez faz
            história ao apresentar uma coletiva abrangente com
            obras de 60 artistas, sob a curadoria de Ulisses Carrillon.
           “A ideia foi também celebrar o potencial estético, eró-
            tico e político das ruas.” A galeria não se considera um
            espaço fechado, funciona de maneira expandida pelas
            redondezas e incorpora a população anônima que circula
            pelo centrão do Rio à procura de bugigangas baratas
            na zona do Saara, o maior centro de comércio de rua
            do Estado do Rio. A notável interação não é buscada
            por Márcio Botner, Laura Lima e Ernesto Neto, trio de
            artistas e proprietários. Ela acontece espontaneamente,  como linhas retas, quadrados e retângulos, e cores
            e a diversidade de interesses pode se transformar em   primárias. Fora das salas da galeria, o artista carioca,
            um carnaval potencializado pela miscigenação.   Cabelo extrapolou suas performances endiabradas
              A integração das poéticas e das situações geradas   e, como sempre, magnetizou o público. Dentro do
            pela coletiva é uma espécie de liturgia como síntese das   prédio, outros trabalhos funcionaram na quietude
            artes. Carrillon defende a exposição também como um   do ambiente como as peças de Maria Laet que joga
           “ato de experimentar outras intelectualidades, outros   com várias implicações do tempo, da ilusão, do fazer
            conhecimentos do corpo, na intenção de convocar uma   sossegado sempre pressa.
            dramaturgia dos objetos, dos mares aos mercados, do   Há experiências que funcionam na percepção de
            céu ao inferno.” Defendendo suas escolhas ele cita   novos espaços. Instalada em plena rua, a Bandeira, de
            Adriana Varejão que refez o Brodway Boogie-Woogie,  Antonio Dias, virou um marco do evento. O pano, de um   FOTOS: MARIANA ALVES
            do Mondrian, especialmente para essa data, uma   vermelho revolucionário, balançou livre no alto de um
            obra desenvolvida com formas geométricas básicas,  dos edifícios, flutuando sobre uma animada multidão.

            66
   61   62   63   64   65   66   67   68   69   70   71