Page 76 - ARTE!Brasileiros #37
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EXPOSIÇÃO SÃO PAULO






             percebi que ela foi totalmente produzida. Claro,
             era para uma revista, mas a gente imagina que
             foi um momento espontâneo dentre muitos que
             o fotógrafo registrou. Mas percebi que não. Foi
             posado mesmo, aquela luz é totalmente imprová-
             vel. Então a verdade é que essa foto já era uma
             simulação naquela época. Demorei mais de dez
             horas para fazer aquele clique. Ou seja, apresentar
             esse discurso de suposta originalidade em 2016 é
             totalmente incoerente”, afirma o artista.
             Essa imagem é uma das pistas que levam o público
             a desconfiar do que está vendo, como pontua a
             curadora: “A ideia é que as pessoas sejam tra-
             gadas para dentro dessa ilusão. E, a partir de
             alguns sinais, percebam que há algo estranho. O
             intuito é que o espectador volte para a primeira
             sala dizendo: acho que eu não posso confiar no
             que vi aqui”. Há, portanto, uma espécie de clima
             de suspense que traz a questão: “Mas quem de
             fato é Gustavo von Ha?”. Na terceira e última sala,
             são expostos documentos, fotografias, livros e
             cadernos que remetem a esse universo ficcional
             da vida do artista, fazendo com que a confusão
             do público aumente. Há, porém, uma obra central
             na qual a ironia da mostra fica evidente: um vídeo.   NÃO PINTURA 04, (2015), GUSTAVO VON HA. ÓLEO SOBRE TELA
             Intitulado Atravessado pelo Tempo, o audiovisual
             mostra a suposta trajetória do artista – como
             descrita no primeiro parágrafo deste texto – a   A crítica se dá, assim, dentro do próprio museu,
             partir de comentários de especialistas como Tadeu   o que enfatiza o caráter de metalinguagem
             Chiarelli e Maria Alice Milliet. A curadora aponta a   da mostra: “A exposição está inserida em um
             relevância desse trabalho: “O vídeo é muito forte.  museu, mas subverte toda a instituição. Tudo,
             Primeiro porque o Gustavo conseguiu convencer   desde a ficha técnica até a localização das
             esses especialistas a participar. E todos discutem   obras”, afirma Von Ha. Essa subversão por den -
             outros trabalhos ou roteiros pensados por ele”.  tro também aponta para a autocrítica: “Quando
             A atuação é um aspecto central da mostra, o que   a gente faz essa denúncia do sistema das artes,
             leva o artista a associar a exposição à perfor-  é complexo porque nós também estamos dentro
             mance: “O que se faz hoje, e eu me incluo nisso,   dele. Ele é artista, eu sou curadora. Mas se trata
             é uma grande representação. As pessoas simu-  de questionar por que essa estrutura ainda
             lam muitas coisas, são personagens. E no filme   permanece quando a gente já desvendou todo
             eu questiono isso: por que o artista tem que ser   o sistema”, afirma Avelar.
             desse jeito? Para onde estamos caminhando?”.
             “Hoje tudo já é conhecido, a tradição parece um   Inventário: Arte Outra
             terreno muito seguro. Nesse sentido, o sistema   Até 5 de fevereiro de 2017
             da arte é uma grande encenação. Essa exposição   Museu de Arte Contemporânea da USP
             é um trabalho muito político, pois denuncia todo   Av. Pedro Álvares Cabral, 1.301 - São Paulo-SP, Brasil
                                                         11 2648-0254
             esse mecanismo”, conta.


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