Page 72 - ARTE!Brasileiros #37
P. 72
EXPOSIÇÃO SÃO PAULO
COISAS II (2016), LEDA CATUNDA
fosse relacionado ao universo feminino, associação totalmente discursivo e protegido não damos
que ela não nega, mas aponta as complexidades: conta de entender o turbilhão das transforma-
“Eu estudei com os rapazes da Casa Sete (grupo ções e acabamos estereotipando tudo”. A artista
formado por Nuno Ramos, Paulo Monteiro, Fábio afirma: “Esse fluxo veloz de imagens revela muito
Miguez, Carlito Carvalhosa e Rodrigo Andrade), da alma humana, na medida em que todo mundo
que produziam pinturas brutas, com muita tinta, busca um sentimento de conforto. Se você está
bem expressionistas mesmo. E acho curioso que, bonita, está amando, torcendo ou indo ao show
como eu costurava, todo mundo falava que a do Metallica, isso te tranquiliza de certa forma. O
minha produção era feminina. Em compensação, capitalismo é um sistema muito cruel que excluiu
ninguém perguntava para os meninos: seu traba- as pessoas. Elas almejam ser incluídas acessando
lho é masculino? Eu sentia que havia uma atitude as imagens. Quero entender por que o público
de rebaixamento que reforçava que, por eu ser se interessa especificamente por alguns tipos de
mulher, meu trabalho falaria necessariamente de imagem, acho isso muito atraente porque não é
questões femininas”, afirma. racional. É algo que mexe com os nossos desejos,
Nesta costura que une diferentes elementos há e eles não são práticos, muito pelo contrário. Os
também um olhar afetivo da artista para os mate- desejos fazem a gente ralar”.
riais que compõem as obras, como pontua Miyada:
“O trabalho da Leda se apropria desses elementos Leda Catunda – I Love You Baby
e permite que você às vezes dê risada, às vezes Até 15 de janeiro de 2017
estranhe, mas nunca numa posição distante, de Instituto Tomie Ohtake
julgamento. Isso é muito importante, pois diante Rua Coropés, 88 - Pinheiros, São Paulo, SP FOTO EDUARDO ORTEGA
11 22 45 1900
da velocidade do mundo, se ficarmos num lugar
72
Book_37.indb 72 11/21/16 8:28 PM