Page 70 - ARTE!Brasileiros #37
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EXPOSIÇÃO SÃO PAULO
POSTO, LOGO EXISTO
EM GRANDE EXPOSIÇÃO NO INSTITUTO TOMIE OHTAKE,
LEDA CATUNDA APRESENTA OBRAS INÉDITAS
QUE INVESTIGAM O CONSUMO E A PRODUÇÃO
DA AUTOIMAGEM NO MUNDO CONTEMPORÂNEO
POR MARIANA TESSITORE
SELFIES DE UM CASAL em sua viagem pela
Califórnia, fotos de um surfista nos mares de Bali,
imagens das unhas de uma garota com símbolos
do Corinthians. Vestígios da intimidade, estas fotos
poderiam estar na timeline do Facebook. Mas elas
se encontram nas últimas obras da artista Leda
Catunda, que apresenta a exposição I Love You
Baby no Instituto Tomie Ohtake. Com curadoria
de Paulo Miyada, a mostra traz cerca de cem
trabalhos, entre pinturas, colagens, gravuras, MAR LINDA (2016), LEDA
desenhos e objetos. CATUNDA. ACRÍLICA
SOBRE TECIDO E VOAL
Em I Love You Baby, a artista paulistana continua
a investigar a temática do gosto e a sua relação
com a identificação e o consumo. A questão já é algo que me interessa como artista”. Esse olhar
aparece desde seus primeiros trabalhos até a voltado para o comportamento do público é algo
sua última individual, realizada em 2015 no Gal- constante na produção de Catunda. Pertencente
pão Fortes Vilaça. No entanto, nesta exposição à chamada geração 80, que ampliou os conceitos
Catunda passa a tratar do impacto da internet e da pintura, Leda começou sua carreira produzindo
das redes sociais na vida cotidiana. Na obra que litografias que faziam referências às imagens
nomeia a mostra, por exemplo, ela apresenta uma televisivas. Posteriormente, seu trabalho passou
colagem de imagens que encontrou no Google a ser menos narrativo e mais atento às questões
após digitar as palavras “amor” e “romance”. A estruturais. O uso de objetos do cotidiano, como
artista conta um pouco sobre o trabalho: “São toalhas, tapetes, plásticos e camisetas, tornou-se
imagens de um casal ‘se pegando’ que revelam uma característica central na produção da artista,
um pouco essa exposição exacerbada que fazemos que brinca que seu trabalho pode ser definido
da nossa própria vida afetiva”, comenta. como “cama, mesa e banho”.
Ainda a respeito do impacto das novas tecnologias, Nas obras apresentadas nesta individual, Catunda
Catunda afirma: “Quando você olha os retratos se apropria e resignifica as fotos postadas nas
do início do século XX, as pessoas não riem, elas redes sociais, como explica Miyada: “A Leda tra-
estão do jeito que o fotógrafo mandou. Já hoje, balha com um universo de imagens, materiais,
elas sabem qual é o seu melhor ângulo. Também é símbolos e marcas que as pessoas consomem e
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possível apagar e tirar uma foto que seja mais favo produzem sistematicamente para criar a própria
rável. A ideia de você editar a sua própria imagem imagem. Tudo isso aparece na exposição porque
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