Page 71 - ARTE!Brasileiros #37

são elementos de que o trabalho se apropria, nós vivemos no fim do capitalismo porque é um
mistura, recombina e não higieniza ou limpa, man- momento no qual se perdeu totalmente o controle.
tendo o caráter às vezes mais brega, exagerado Nesta obra, temos inúmeras referências, desde
ou apelativo”, afirma. creme Nivea e Advil até a revista Poder. Tanto
As roupas, em particular, são materiais pelos quais faz se a coisa é cara ou barata, para o cabelo ou
a artista se interessa, por serem signos de status para o corpo. O fenômeno do comportamento
social e pertencimento, além de revelarem as associado ao consumo é uma situação da qual
noções tênues entre o que seria bom ou mau ninguém escapa mais”.
gosto. Vários de seus trabalhos têm estampas Esses diferentes objetos são unidos em sua obra
que ela retirou de camisetas de surfe, de bandas pela costura, técnica presente desde o início de
de rock e principalmente de roupas esportivas, sua produção e que também remete ao popular
que remetem “a essa imagem do corpo sarado, e ao artesanal. Ao contrário de alguns artistas
que é uma nova higienização que fiscaliza se você da sua geração como Iran do Espírito Santo e
está no seu peso ideal, se seu cabelo está do jeito Ana Maria Tavares, que utilizam materiais como
certo, dentre outras coisas”, afirma Catunda. Os granito, vidro, metal ou pedra, Catunda conta que
vestuários também aparecem na obra Coisas para sempre optou por uma estética que define como
Comprar, composta por etiquetas de diversos “precária” e remete a uma arte do cotidiano. O
produtos, como explica a artista: “Eu falo que emprego da costura fez com que seu trabalho

MORUMBI (2014), LEDA CATUNDA.
ACRÍLICA SOBRE TELA E TECIDO

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